Jair Bolsonaro ainda quer demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas não tem envergadura política para usar a caneta. Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF), ministros e ala militar do governo, todos intercederam a favor de uma equipe que está à frente do combate à crise do coronavírus desde janeiro.
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Panelaços voltaram às janelas e servidores do ministério foram para a rua a favor do movimento “fica Mandetta”. O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), deu a senha: avisou que trocar o coordenador da Saúde em meio a uma pandemia prejudicaria a relação do Executivo com o Parlamento.
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Bolsonaro recuou, mas vai deixar Mandetta cozinhando em fogo alto. Na cabeça do presidente, a única maneira de sair do isolamento político e resgatar a autoridade perdida é afastar quem faz sombra.
Para garantir o poder, Bolsonaro não se importa em colocar em risco a vida de brasileiros. E, para o Ministério, o presidente gostaria de ter alguém a sua imagem e semelhança, de preferência, que não o desafie. O deputado Osmar Terra (MDB-RS) já estava passando o terno para a posse.
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Mandetta, no entanto, vai ficar. Ele levou ao presidente um plano de transição com início, meio e fim, que há semanas vem sendo construído com os técnicos. Tudo dentro da realidade dos números, adaptado à evolução da doença e da estrutura das UTIs de cada região. Dados, aliás, que Bolsonaro nunca se deu ao trabalho de passar os olhos.
Mandetta prega a importância da ciência, da disciplina do planejamento e de manter o foco. Ao lado de sua equipe, saiu maior do que entrou da segunda-feira de crise.
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Tudo no diálogo
Questionado pela coluna sobre a implantação do plano de transição, o secretário executivo, João Gabbardo, afirmou que nada será na marra.
– O SUS é feito de diálogo, negociação e consensos – disse o secretário.
Ele ainda afirmou que o ministério nunca recomendou fechar as atividades em municípios em que não havia transmissão do vírus.
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Ordem unida
Sobre a crise entre Bolsonaro e Mandetta, o general Mourão disse à coluna que está tudo sob controle.
– Como dizia a minha professora de matemática nos EUA: "so far, so good" – afirmou o vice-presidente.
A ala militar do palácio do Planalto se mobilizou a favor do ministro da Saúde, convencendo Bolsonaro do desastre que seria a demissão nesse momento de pandemia. O ministro da casa civil, general Braga Netto, teve papel fundamental.
Tijolão
Quem convive com Mandetta há muito tempo está surpreso com a resiliência do ministro. Secretários de saúde lembram que, quando deputado federal, ele era explosivo e não deixava interlocutor sem resposta.
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Debaixo dos ataques de Bolsonaro, que implicou até com a participação dele na live da dupla Jorge e Mateus, o ministro dá show de equilibrismo.