Com incrível capacidade de cavar as próprias crises, Jair Bolsonaro conseguiu colocar no centro do debate a palavra impeachment, apesar da necessidade política de o país concentrar todas as atenções no combate aos efeitos da pandemia do coronavírus. É uma proeza.
Continua depois da publicidade
Aliados dirão que são os esquerdistas que planejam derrubar o presidente, mas a oposição anda apagada. Foi o presidente da República quem decidiu, de um hora para outra, trocar o diretor-geral da Polícia Federal, dando mais do que motivo para que Sergio Moro desembarcasse do Ministério da Justiça em grande estilo.
Nenhuma das explicações oficiais de Bolsonaro justifica a urgência da mudança. Só a preocupação com os rumos das investigações e como isso pode afetar os filhos para fazer um presidente da República desviar a atenção de uma pandemia. O resultado da lambança é uma nova e até então improvável polarização: bolsonaristas x lavajatistas.
Por mais fragilizado que o presidente da República esteja, não há clima (agora) para impeachment. Não pode haver. Os sistemas de saúde estão entrando em colapso pelo país. Os números mostram que aquelas regiões que promoveram isolamento social mais cedo estão conseguindo os melhores resultados.
Existe um programa de transição para ser executado, recursos a serem distribuídos para os trabalhadores informais, micro e pequenas empresas a serem socorridas. Grandes empresas podem ajudar. Em resumo: o país precisa de tudo, menos de instabilidade política.
Continua depois da publicidade
Seria interessante que os aliados de Bolsonaro, aqueles que o ajudaram a sair do baixo clero da Câmara para chegar ao comando do país, cobrassem essa atitude pró-ativa. Bater palmas para tudo o que o presidente faz – da bizarrice de golden shower à vontade de controlar a Polícia Federal – resultou nesse cenário insólito. Bolsonaristas de carteirinha estão nas redes pedindo para que deixem o capitão governar. Pois basta querer. Vai lá, presidente, governe.
Herança
Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, disse que vai adiar as férias por mais alguns dias porque o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu para que ele ajudasse na transição. Servidor público, Wanderson foi uma das principais figuras da equipe de Henrique Mandetta e chegou a anunciar demissão no auge da crise com Bolsonaro.
O ex-secretário-executivo João Gabbardo, também da linha de frente do combate à doença, já deixou a pasta. Tanto o programa retomada das atividades econômicas quanto o de testagem ficaram prontos de uma equipe para outra.