Enquanto o ministro da Saúde, Nelson Teich, se dirigia a Manaus para uma reunião sobre o colapso dos hospitais na região Norte, Jair Bolsonaro participava de um ato político em frente à Praça dos Três Poderes. Mais uma vez, o presidente da República deixa claro que a preservação da própria popularidade está à frente do papel de estadista, de liderar a mobilização contra os efeitos da pandemia. O ato ainda serviu como uma exibição de força popular diante do que poderá ocorrer depois do depoimento do ex-ministro da Justiça – e ex-amor – Sergio Moro.
Continua depois da publicidade
Foi uma vacina política, uma das especialidades da família Bolsonaro. Ele estava na rampa do Palácio do Planalto e não houve uma palavra sobre as vítimas da covid-19, não houve um sinal de simpatia aos profissionais de saúde que enfrentam o pico da doença. Só ameaças. O presidente da República disse que nesta segunda-feira (4) anunciará o novo nome para a direção da Polícia Federal, que não vai mais admitir interferências, que chegou ao limite e que as Forças Armadas estão ao lado do povo. A ameaça às instituições está clara, assim como continua o constrangimento entre os generais.
Na Praça dos Três Poderes, manifestantes bolsonaristas abusavam da ignorância e da covardia, agredindo jornalistas. Violência que já havia ocorrido em Porto Alegre, se repetiu em Brasília, em pleno dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Autoridades publicaram notas de repúdio, mas é preciso um ato claro das instituições a favor da razão e da defesa da democracia.
O Brasil chegou a 7.025 óbitos e 101.147 casos da covid-19. A doença avança nas regiões de periferia, há falta de leitos de UTI e de respiradores. E o presidente da República começa a segunda-feira de olho é nos efeitos do barulho do domingo nas redes sociais.
Dinheiro para os Estados
A tendência é que a proposta de ajuda da União aos Estados e municípios, aprovada no último sábado pelos senadores, passe pela Câmara sem modificações no texto. Embora não seja unanimidade entre os governadores, outra alteração poderia atrasar ainda mais o repasse. Entre as medidas, há previsão de repasse de R$ R$ 60 bilhões para financiar ações de enfrentamento ao coronavírus.
Continua depois da publicidade
Maratonista
Oficialmente fora da secretaria-executiva do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis disse à coluna que estuda propostas, mas não do setor público. Gabbardo participou do governo Bolsonaro desde a transição, trabalhando, inclusive, no desenho do funcionamento da pasta. Assim que saiu a exoneração, ele conversou com a coluna:
— E, agora, o senhor já sabe o que vai fazer?
— Neste exato momento, vou sair para correr. Livre e desimpedido!