O aumento da tensão entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal é um risco para a democracia e preocupa quem tem juízo, mas convém a Jair Bolsonaro. Com a popularidade em queda e sem qualquer liderança no combate aos efeitos da pandemia, o presidente da República desvia a atenção ao criar crises políticas. Com o inimigo bem identificado, Bolsonaro mobiliza os cerca de 30% de aprovação que ainda tem e usa o apoio das Forças Armadas para fazer ameaças.

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O risco de intervenção militar, que jamais poderia ser cogitado, está sempre na pauta. Tanto que, ontem, dois representantes da ala militar, mais uma vez, negaram a disposição para um ato antidemocrático. Em resposta a uma entrevista do deputado Eduardo Bolsonaro, o general Hamilton Mourão afirmou que uma ruptura está fora de cogitação. Também o ministro do GSI, general Augusto Heleno, disse que ninguém está pensando em intervenção. Falando em uma crise sem precedentes, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, entrou em campo como bombeiro.

Nesta guerra fria, o polêmico inquérito das fake news serve de resposta do Supremo. Enquanto isso, o número de mortos por coronavírus aumenta, o índice de desemprego sobe e o país ainda não tem um plano de recuperação para o pós-pandemia.

Sensacionalismo

Para o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp, o parecer do procurador-geral da República, Augusto Aras, contra a busca e apreensão do celular de Bolsonaro não traz surpresa. Dipp lembra que não cabe aos partidos pedirem busca e apreensão, pois não são partes do processo:

— Foi uma medida sensacionalista, política, sabendo que não seria atendida.

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E a Lei Kandir?

Para o senador Lasier Martins (Pode), uma das grandes questões do momento é saber qual será a fonte do pagamento da Lei Kandir para os Estados. Em reunião com parlamentares, o ministro Paulo Guedes (Economia) alertou que os recursos do Tesouro estão se exaurindo. Apesar do acordo homologado pelo STF, que encaminha ao Congresso a missão de votar um projeto regulamentando o pagamento, a equipe econômica ainda não encaminhou orientação à Câmara ou ao Senado.