Agora, Sergio Moro pode dizer que conhece de perto a dor e a delícia de ter trocado o climatizado e silencioso gabinete de juiz pela vida na Esplanada dos Ministérios. No papel de vidraça, ele precisou mudar radicalmente sua rotina.

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Em seis meses no cargo, passou a frequentar jantares e eventos sociais nos apartamentos funcionais de senadores, foi aplaudido em um estádio de futebol — vestindo a camiseta de um time que não é o dele —, e encerrou o ciclo enfrentando o forno de uma comissão bagunçada. 

O pior da Câmara desfilou ao longo da tarde desta terça-feira (2) pelo lotado e abafado plenário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A tal ponto que o presidente da comissão, Felipe Franceschini (PSL-PR), não hesitou em comparar o colegiado à Escolinha do Professor Raimundo. E ainda repetiu o bordão do Chico Anysio:

— E o salário, ó!

Um outro deputado, ao questionar o ministro, citou o famoso desenho Piu-Piu e Frajola. Houve vaias, gritos, deboches. Provocações da oposição e de governistas. Risadas e aplausos. Moro não escondia a irritação com o ambiente e também com as perguntas mais desconfortáveis. Aliás, as questões sérias e necessárias poderiam e deveriam ter sido feitas em um ambiente bem mais sóbrio. 

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A situação envolvendo o ex-juiz e os procuradores da Lava-Jato é muito séria e concentra vários pontos a serem investigados e esclarecidos: o vazamento criminoso de conversas reservadas e, não menos importante, o conteúdo dessas conversas que, se for confirmado, pode revelar sobre as relações entre juiz e procuradores. A galhofa como estratégia na tentativa de desmoralizar ou defender o ministro da Justiça não poderia ser erro maior.

Supermoro

Apesar da irritação do ministro Sérgio Moro (Justiça), vários deputados aproveitaram a sessão da CCJ apenas para passear pelo plenário, passar por trás da mesa onde estava o ministro e tirar uma foto ao lado do convidado para badalar nas redes sociais. Entravam por uma porta, atravessavam o salão e saíam por outra.

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