Jair Bolsonaro conseguiu o que queria: tem uma pessoa para quem pode ligar no comando da Polícia Federal (PF) e um ministro da Justiça como André Mendonça, de confiança, com currículo respeitável, bom trânsito nas Cortes superiores e zero de protagonismo.
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>Ações na Justiça tentam barrar posse de amigo do clã Bolsonaro no comando da PF
Delegado da Polícia Federal e querido por muitos colegas, Alexandre Ramagem terá que provar que não assumiu o posto mais importante do Máscara Negra (como o prédio da PF é conhecido) para ser uma marionete do presidente. Afinal, foi isso que Sergio Moro denunciou ao deixar o Ministério da Justiça. E é o que o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello autorizou que seja investigado. O presidente tem a intenção de ferir a autonomia da PF? Moro tem provas?
Procurador aposentado e ex-integrante da operação Lava-Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou à coluna que, se as acusações forem confirmadas, o caso será mais grave do que o Fiat Elba de Collor ou as pedaladas de Dilma. Todo mundo se lembra de como terminaram esses episódios.
— É ilusão do presidente se ele pensa que poderá controlar os trabalhos da PF, em especial inquéritos autorizados pelo Supremo — alertou o ex-coordenador da Lava-Jato.
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Dentro desse cenário, é estratégico para Bolsonaro ter à disposição um ministro da Justiça que circule bem pelos corredores do STF. Mendonça é amigo do presidente da Corte, Dias Toffoli, e assume a pasta como um aquecimento para o próximo passo. Ele sonha mesmo é com a indicação para virar colega de Toffoli. Pastor de uma igreja em Brasília, Mendonça também se enquadra no critério anunciado pelo próprio Bolsonaro, que afirmou sua preferência por alguém “terrivelmente evangélico” para o Supremo. Se Moro está certo, Bolsonaro tratou de se blindar.
Era para ser discreto, mas…
A alta cúpula do governo federal vai se mudar para Porto Alegre, nesta quarta-feira, para prestigiar a troca do comando no Comando Militar do Sul. O general Hamilton Mourão confirmou à coluna que ele e o presidente Jair Bolsonaro estarão no evento, além do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e do comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. O general Valério Trindade Stumpf assume o comando no lugar do general Geraldo Antonio Miotto em cerimônia presidida por Bolsonaro.
Arrependimento
Procurador aposentado e advogado, Carlos Fernando dos Santos Lima reconhece que teme um eventual aparelhamento da Polícia Federal e a decisão de enterrar eventuais investigações sobre deputados bolsonaristas. Amigo de Sergio Moro, ele ainda disse que se arrepende de ter votado em Bolsonaro no segundo turno das últimas eleições e que a política é o único caminho que vislumbra para Moro.
Avestruz
No dia em que o Brasil teve novo recorde de mortes por coronavírus em 24 horas, o presidente da República fez questão de tirar fotos em uma sessão de tiro ao alvo. O que salvou foi o ministro da Saúde, Nelson Teich, que não deixou de fazer o balanço e comentar os números.
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