Depois de três anos mergulhado em uma profunda crise política e econômica, o Brasil entra em 2018 depositando todas as esperanças nas urnas. Infelizmente, é expectativa demais para cardápio de menos. Apesar das revelações que atingiram os principais partidos e lideranças do país, desde o final dos anos 1980 não chegamos às vésperas de um período eleitoral com tantas incertezas. O novo não apareceu. E, a essas alturas, é até melhor mesmo que não seja inventado um salvador da Pátria.
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É certo que, com o financiamento público, teremos uma eleição mais barata. Mas o índice de renovação na Câmara e no Senado – em cerca de 40% nas últimas eleições – dificilmente alcançará níveis revolucionários. Quem tem mandato se beneficiará da estrutura dos gabinetes. Os partidos também devem priorizar, na partilha do fundo eleitoral, aqueles que já são deputados ou senadores. O novo presidente da República, portanto, deverá encontrar um parlamento semelhante ao que já existe, inclusive com os mesmos vícios. O consolo é que as estruturas de fiscalização estão mais afiadas.
Depois da polarização política, de um impeachment, de um governo de transição e de escândalos de corrupção que atingiram os principais partidos, como será a escolha para presidente? Essa é a grande questão de 2018, que já começa com força total a partir do julgamento do ex-presidente Lula. Líder nas pesquisas, ele será uma figura estratégica à eleição – independentemente de sua situação jurídica. Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes(PDT) sonham em deslanchar, caso o petista se inviabilize. Do outro lado, o desafio do tucano Geraldo Alckmin é se viabilizar como candidato dos partidos de centro, enquanto o presidente Michel Temer busca alguém para defender o seu legado e Jair Bolsonaro (PSC) ainda surfa na onda dos efeitos da polarização. O tom dos debates será determinado pelo tamanho da reação da economia. Depois de tantos desvarios, se conseguirmos retomar um mínimo de estabilidade, já estamos no lucro.
Mico do ano – O presidente Michel Temer poderia ter encerrado o ano sem o mico do indulto de Natal. Foi obrigado a desistir de um novo decreto para não aumentar o desgaste.
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Blindagem
O ano termina com o saldo de três pedidos de impeachment protocolados no Senado contra o ministro do STF Gilmar Mendes, o troféu polêmica 2017. Apesar das decisões questionáveis, um dos pedidos já foi arquivado e dois aguardam manifestação da assessoria técnica. Muito bem relacionado no Congresso, com afilhados acomodados em lugares-chave na República, é praticamente impossível que o plenário tome qualquer decisão contra o ministro.
Lula em Porto Alegre
A defesa do ex-presidente Lula acredita que ele não irá a Porto Alegre no dia do julgamento no TRF4. Isso porque os advogados chegaram a protocolar pedido para ele ser ouvido na ação, mas não houve resposta até agora. Os organizadores da mobilização pró-Lula, no entanto, alimentam a expectativa de que ele apareça no evento. Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (PT) afirma que Lula tomará decisão sobre a presença em Porto Alegre uma semana antes do julgamento.
FRASE
“Vossa excelência deveria ouvir a última música de Chico Buarque: a raiva é filha do medo e mãe da covardia. Sempre está com ódio de alguém, com raiva de alguém, use um argumento, o mérito do argumento.”
Do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso, que serve de recado para 2018. A graça da democracia é o debate.
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