Muitas pessoas costumam beber para lidar com o estresse, não é mesmo? A pandemia da Covid-19 intensificou alguns fatores de estresse, incluindo: isolamento e interrupção de rotinas, dificuldades econômicas, medo de contágio e, em alguns casos, perdas de amigos e familiares. E pensando em todo esse contexto, convidei a mestranda em neurociências Marina Veiga da Silva Amorim e sua orientadora Dra. Patricia Brocardo da Universidade Federal de Santa Catarina para falar sobre esse assunto tão importante: o aumento do consumo de álcool durante a pandemia.
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Dados divulgados em maio do ano passado (2020). pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). apontam um crescimento de 38% nas vendas de bebidas alcoólicas nas distribuidoras desde o início do isolamento social. Nos mercados, o aumento nas vendas foi de 27%. Outra pesquisa, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indicou que 18% dos brasileiros aumentaram o consumo de álcool nesse período. O índice foi ainda maior (26%) na faixa etária de 30 a 39 anos. Esses dados trazem um alerta também para a saúde da mulher e especialmente para as consequências do consumo de álcool durante a gestação.
Quando uma gestante ingere bebidas alcoólicas, a criança no seu útero também o faz. Isso porque o álcool atravessa a placenta e prejudica o crescimento e o desenvolvimento do embrião e do feto. O consumo de álcool durante a gestação é considerado a forma evitável mais comum de deficiência mental no mundo ocidental. Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez pode ocasionar diversos prejuízos ao feto que podem perdurar por toda a vida deste indivíduo. O cérebro é o órgão mais suscetível aos efeitos da exposição ao álcool durante o desenvolvimento. O álcool pode provocar morte dos neurônios, prejuízo na formação e migração de novos neurônios e causar alterações em como esses neurônios se comunicam.
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Crianças que foram expostas ao álcool no útero podem apresentar o Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF). As crianças acometidas por TEAF podem apresentar desde deficiências físicas, defeitos congênitos, problemas no aprendizado e no comportamento social, entre diversos outros. Quando adolescentes, muitos desses jovens abandonam os estudos, não conseguem manter um emprego e tem problemas com a justiça.
Estratégias de prevenção e divulgação dos malefícios do consumo de álcool durante a gestação são muito importantes. Na UFSC, o Laboratório de Neuroplasticidade (LANEP) coordenado pela professora Patricia Brocardo (Departamento de Ciências Morfológicas- CCB – UFSC) desenvolve desde 2017 ações de prevenção pelo programa de extensão sobre os perigos do uso de álcool na gravidez. O projeto tem como objetivo levar informações científicas e atualizadas sobre os efeitos do consumo de álcool para estudantes do ensino médio. Já foram realizadas 12 visitas em escolas públicas, 3 visitas em escolas particulares e 2 minicursos destinados a alunos e comunidade da UFSC, impactando um número médio de 1200 pessoas diretamente.
O LANEP organizou juntamente com o LaBioSignal, seminários sobre o dia mundial de prevenção da síndrome alcoólica fetal nos anos de 2019 e 2020. Os eventos foram gratuitos e abertos à comunidade, sendo que em 2020 o I webinar brasileiro sobre o tema teve a presença de grandes profissionais reconhecidos na área como a Dra. Conceição Segre. O encontro está disponível no Youtube.
Ainda com o objetivo de entender como é o consumo de bebidas álcoolicas em gestantes aqui de Florianópolis o LANEP está realizando uma pesquisa através de questionário online. Com apenas 5 minutos é possível respondê-la. Questionário on-line disponível no link https://sites.google.com/view/gravidaemfloripa/home
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Tenho mais informações sobre álcool na gestação em um podcast; escute!