Nascer no mesmo país de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom, foi minha primeira graça. E ele dizia que o Brasil não é para principiantes. Aos 13  anos de idade eu era. A Ilha de Santa Catarina era a mesma. A cidade de Florianópolis era outra.

Continua depois da publicidade

Ali onde está o Beiramar Shopping era o Estádio Adolfo Konder, e numa tarde de domingo o doido do meu pai, feliz como poucas vezes o vi, me fez narrar pela primeira vez um jogo inteiro sozinho, Figueirense x Internacional de Porto Alegre. Placar de 4 a 1 para os  gaúchos. Comecei como o mais jovem locutor esportivo do Brasil. Inspirado depois no Big Boy da Rádio Nacional do Rio, passei a ter um programa de música.

Para ouvir, dançar e gamar. Tive a sorte de conhecer gente doida, gente boa, gente que sabia e intuía como era o mundo. O sangue corria nas veias, a vontade de fazer aumentava e, embora ilhado, estava conectado ao mundo que me chegava pelas ondas da radio difusão.

Foi também pelas ondas, desta vez as do mar, que fundamos, Ricardinho e eu, o jornal Rock, Surf & Brotos. Um jornal diferente dos outros, com outra forma, outra fotografia. Promovemos alguns shows nas areias da Joaquina. Tim Maia foi a estrela de um deles.

Fui colunista no Jornal de Santa Catarina, de Blumenau. Depois, a convite do José Matusalém Comelli e Marcílio Medeiros Filho, fui para O Estado substituir o melhor colunista de todos os tempos, Beto Stodieck. O  Estado era o nosso jornal. A foto da capa era a cara da cidade naquele dia.

Continua depois da publicidade

A fotografia ainda era uma arte. Em preto e branco. Comecei a viajar. Inicialmente para o Rio de Janeiro e outras cidades, Vitória e Porto Alegre. Ia de ônibus. Rick Wakeman lotava o Gigantinho e a cidade vizinha. Era 1974. A viagem ao centro da Terra que todos fazíamos me levava cada vez mais longe. Precisa correr perigo, correr o mundo.

E meu trabalho sempre foi este. Mostrar, dividir, contar tudo o que eu via. Fui porta voz de uma geração, não por indicação, mas por vocação, intuição. A cidade se transformava e junto com ela minha coluna dava e dá testemunho de suas mudanças.

A política passou pela minha porta, mas preferi ser político, sem me deixar contaminar com as sacanagens que esfolam o povo brasileiro. Sou mais útil socialmente por aqui, porque minha tribuna não é o parlamento local, estadual ou nacional. Eu falo do mundo para minha vila. E da minha vila eu contemplo o mundo.

A RBS, da família Sirotsky, consolida minha participação na imprensa de Santa Catarina. Subir e descer, de moto, motinho, dia após dia, o Morro da Cruz, para ganhar a vida e levar informação para vocês. Alguns dias, com chuva ou sol, a vida escorria por entre os dedos das mãos cruzadas.

Continua depois da publicidade

A vontade de reter toda aquela emoção era quase insuportável diante de tantos desafios, censuras e pressões. O que eu levo destes 50 anos de profissão? Tudo o que vivi, aprendi, denunciei e enalteci. E deixo o que ficar no coração e na memória de todos vocês. Valeu! Amanhã tem mais.