É quase impossível não traçar um paralelo entre a crise que está sendo gerada pela greve dos caminhoneiros e a Inconfidência Mineira. O movimento dos defensores mineiros da independência do Brasil de Portugal reivindicava o fim do quinto, medida que obrigava a doação à corte portuguesa de 20% de todo o ouro extraído na província. A história é conhecida: o líder do movimento, Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), acabou morto pelos colonizadores.
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Em pleno 2018, 229 anos depois, não é aos portugueses que os brasileiros têm que repassar o quinto.
É ao governo central. Aliás, muito mais que 20%. A carga tributária no país se aproxima dos 40%.
Temos que trabalhar gratuitamente cinco meses por ano para pagar impostos.
Somos inconfidentes confessando que, do jeito que está, não dá para continuar.
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O jogo do ouro negro
Na cadeia de combustível, da exploração até a bomba no posto de gasolina, a parte mais cara é exatamente a extração. Ou seja, tirar o óleo do fundo da terra ou do mar. A Petrobras exporta 44% de sua produção de óleo cru. E depois importa gasolina e diesel, refinados a partir do mesmo óleo cru. E paga pelo serviço de refinaria, claro. No primeiro trimestre de 2018, a Petrobras teve um lucro líquido de R$ 6,96 bilhões, amplamente comemorados pelo governo. Alguma coisa está estranha nesta estratégia de negócios.
Inteligência ou burrice?
O setor de inteligência do governo federal demonstrou, mais uma vez, que inexiste. Não é possível que empresários do setor de transportes, caminhoneiros autônomos e sindicatos da categoria tenham se organizado dessa maneira, em quase todo o país, sem que um alerta houvesse sido disparado antes de o circo pegar fogo. Serviços de inteligência existem exatamente para isso: interpretar cenários a partir dos sinais fracos coletados, aqui e ali, a fim de assessorar o processo decisório em busca de soluções antes que as crises aconteçam. A isso chamamos de proatividade.
Povo unido
O governo vai botar a Força Nacional nas estradas para acabar com a manifestação dos caminhoneiros. Vai se surpreender, quem viver, verá.
Farda organizada
A situação caótica provocada pela greve dos caminhoneiros leva muitos a desejarem a volta do regime militar. É o assunto predominante nas redes sociais. Se os homens de farda estivessem comandando, a coisa seria diferente, argumentam os internautas. No WhatsApp surgem a cada momento áudios e vídeos de pessoas que se dizem comandantes militares afirmando que o Exército já está se preparando para intervir. Tudo fake, para alívio de todos nós.
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