Em agosto de 1989, Astor Piazzolla passeava sozinho em um final de tarde pelo corredor do Mercado Público, de boné, despretensioso e tímido. Encostou no balcão do Box 32 e pediu-me uma caipirinha. Assim que servi a caipirinha, depois de alguns goles, começou a repetir sem parar: que buena caipirinha, que buena caipirinha. Começou a conversar comigo, que até então eu não tinha a menor ideia de quem se tratava pela sua simplicidade. 

Continua depois da publicidade

> Entre no grupo e receba as notícias de Florianópolis e região

De tanto elogiar a caipirinha, perguntei se ele gostaria de aprender a fazer. Surpreso, topou na hora, passou para o meu lado de dentro do balcão e o ensinei passo a passo. Bebeu, conversou um pouco mais comigo, pagou a conta e saiu feliz. Minha sucessão de surpresas começou no dia seguinte, quando ele reapareceu com outros músicos de seu conjunto. Eles não acreditavam que Piazzolla aprendera a fazer caipirinha, justamente num boteco de Mercado. Coloquei Piazzolla novamente para dentro do balcão e disse: vamos fazer caipirinha para eles. Beberam várias, preparadas por aquele gênio enquanto conversavam animadamente. 

Para minha surpresa, antes de sair, me deu um grande abraço e me presenteou com dois ingressos para o seu concerto no teatro do CIC, dizendo: muito prazer meu nome é Astor Piazzolla. Quase desmaiei de emoção por ter conhecido e convivido algumas horas com aquele que revolucionou a história do tango. Quando cheguei ao teatro, fui recebido pelo seu empresário e colocado na primeira fila, bem em frente ao palco. 

No final do espetáculo, veio a grande surpresa: Diante dos gritos pedindo “bis”, executou mais duas músicas e encerrou a apresentação dizendo que fazia em homenagem ao amigo Beto Barreiros do Box 32, que o ensinara a fazer a melhor caipirinha que já havia bebido. Após o “bis”, foi até a ponta do palco, me chamou, apertou a minha mão e disse: “que buena caipirinha, que buena caipirinha”.

Continua depois da publicidade

No maior jornal da Argentina, o Clarín, o destaque na capa foi: Ele ensinou Piazzolla a fazer caipirinha.

Confira como fazer caipirinha

Leia também

A verdade por trás da foto com o Troféu Manézinho da Ilha no Mercado Público

Embaixador Márcio Dias faz visita a Florianópolis

Festival da tainha começa no Box 32