A escolha por mandar os jogos no Estádio Gigante do Vale, em Indaial, tinha um objetivo claro para o Blumenau Esporte Clube: economizar para poder investir no departamento profissional. Com os altos custos para jogar no Estádio do Sesi, o Tricolor foi até a cidade vizinha buscar uma opção mais em conta pensando nas nove partidas em casa na Série B do Catarinense. Em tese, tudo certo. Os cerca de R$ 10 mil de aluguel por jogo em Blumenau se transformaram em pouco mais de R$ 3 mil por mês no campo do XV de Outubro.

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O que parecia ser uma boa estratégia de início se transformou em uma dor de cabeça à diretoria do Blumenau. Isso porque reformas exigidas pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Militar fizeram com que o clube tivesse de desembolsar mais de R$ 90 mil em adequações no estádio – só esse valor seria possível pagar os nove aluguéis do Sesi para que os jogos ocorressem na cidade que o time leva no nome. Para piorar, boa parte dos duelos da equipe em casa eram às quartas-feiras. Como o Gigante do Vale não tem iluminação, essas partidas eram à tarde. A consequência disso era possível ver nas arquibancadas: a média de público foi de apenas 70 pagantes.

Jogos no vermelho. Nova suspeita de manipulação de resultados com base em vídeos e áudios vazados. Vaivém do treinador. Demissões. Descrédito com a própria torcida. O que já era complicado até o início do returno se transformou em uma tempestade. A informação do cancelamento do jogo contra o Fluminense de Joinville deixou o Tricolor por um fio. E esse fio não resistiu à partida diante do Concórdia, quando o segundo WO gerou a exclusão do clube do campeonato – e todas as sanções que vêm atreladas a essa decisão.

Situação difícil

O presidente do Blumenau, Carlos Henrique Cordeiro da Silva, o Zidane, até diz que vai recorrer da decisão de tirar o clube, mas reverter esse cenário parece inviável. Com isso, o Tricolor terá que pagar à prestação a escolha de jogar em Indaial. O barato saiu caro. Isso porque além de ser automaticamente rebaixado à Série C do Catarinense, o time ficará suspenso por dois anos de competições profissionais. Isso significa que, quando voltar, terá de recomeçar do zero e com a desconfiança, já que é segunda vez desde 2013 que o Blumenau deixa a Série B na metade do campeonato. Junte isso àquilo que, talvez, seja a pior parte: a perda de algum resquício de credibilidade que ainda poderia existir.

Reincidência

Desde que o Blumenau voltou a campo, seis anos atrás, apenas em três temporadas houve tranquilidade. Foi em 2013, quando perdeu o título da Série C para o Internacional de Lages naquele jogo repleto de polêmicas; em 2014, quando disputou a Segunda Divisão por conta da desistência do Imbituba; e em 2017, ano em que conquistou a Terceirinha. Os demais tiveram problemas: em 2015 o time desistiu da Série B por falta de dinheiro e depois de levar goleadas homéricas, como 8 a 0 para o Porto, 8 a 1 para o Hercílio Luz, e 9 a 0 para o Juventus de Seara. Em 2016 não disputou nada. Aí em 2018 uma série de disputas internas pelo comando do clube trouxe incógnitas quanto ao futebol profissional. E então chegamos neste ano.

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"Perseguição"

Todas as vezes que liguei para o presidente Zidane pedindo contrapontos em relação ao cancelamento dos jogos, o tom era parecido. O atual mandatário do Tricolor mantém o discurso de que a Federação Catarinense de Futebol (FCF) persegue o clube e quer rebaixá-lo a qualquer custo. Chegou a dizer que fica “triste de saber que duas equipes como o Barra e o Guarani precisem de intervenção da federação para não cair de divisão”.