Como se não bastasse a crise de saúde do coronavírus, Santa Catarina passa por uma turbulência institucional há quase um ano. Tudo começou no episódio dos respiradores, revelado pelo site de The Intercept Brasil, no final de abril de 2020. Desde lá, o governador Carlos Moisés da Silva se afastou da linha de frente da pandemia, sofreu dois processos de impeachment e foi afastado duas vezes do cargo. Enquanto isso, a Assembleia Legislativa (Alesc) se aproveitou da fragilidade política do chefe do Executivo para trabalhar pela saída dele do cargo. Entre idas e vindas, no meio da batalha da política, ficou o catarinense exposto a uma pandemia sem comando de reação. O resultado é uma bagunça com trocas de comando e um enfrentamento à crise de saúde baseado na ausência de liderança.

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> Veja como foi a sessão que avaliou o impeachment de Moisés no caso dos respiradores

Assim como não se sabe qual decreto está em vigor, a maioria da população dormiu na última sexta-feira (26) sem saber quem governava o Estado. Os catarinenses deitaram em um dia com Moisés no comando e acordaram no outro com Daniela Reinehr governadora. Não há aqui uma análise qualitativa de quem chefia o governo. Esse é um tema para outra coluna. Poderíamos estar falando de outras figuras políticas. O foco neste texto é a instabilidade institucional gerada no último ano.

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O momento, sem dúvidas, é péssimo para uma troca do governo. Isso não impede a necessidade de que se apure o que aconteceu na compra dos respiradores. Pelo resultado da admissibilidade do impeachment, na última sexta-feira, os desembargadores membros do Tribunal entenderam que Moisés foi omisso durante a aquisição. Não se beneficiou da compra, mas poderia ter impedido, conforme apontaram os magistrados. Este é mais um fator para agravar a crise catarinense.

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Como resultado prático no dia a dia das pessoas, a troca de governadores a cada cinco meses gera imprevisibilidade. O que fará Daniela em relação à pandemia? Mudará decretos? Como salvará vidas diante do avanço da doença? E a fila de leitos de UTI? Plano econômico, terá? Isso tudo impacta diretamente o “amanhã” do catarinense.

Por isso que mudar o comando do Executivo estadual traz impactos. A substituição de um secretário é suficiente para alterar a rotina das pessoas. Santa Catarina verá novamente essa onda de trocas. Quando Moisés foi afastado pela primeira vez, Daniela mudou algumas cadeiras do primeiro escalão. Depois, o pesselista voltou e promoveu outras mudanças.

O grande problema da instabilidade dos últimos meses é a perda de confiança das pessoas no comando. Como citei no começo do texto, o episódio dos respiradores foi o estopim. Ele trouxe junto a insatisfação popular com a compra fraudulenta. Uma desconfiança capaz de desmobilizar diante das ordens das autoridades. Com Moisés cada vez mais distante do papel de líder, então, a gestão da pandemia resumiu-se à abertura de leitos de UTI e restrições sem eficácia.

Projeto político da Alesc empurrou SC para a teoria do caos

Até mesmo Daniela, quando assumiu, deixou resultados ruins no enfrentamento ao coronavírus. Nem o pedido por uso de máscara foi mantido por ela, que apagou a mensagem horas depois em uma rede social. Mais um exemplo da bagunça catarinense.

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Vivemos a pior crise político-administrativa de SC dentro da pior crise humanitária do mundo. A vice-governadora assume na próxima terça-feira (30) o comando do Estado depois de três dias de “transição” e leniência do governo por falta de um nome fixo. Mas ainda haverá um novo julgamento do impeachment em até quatro meses para a definição sobre afastamento definitivo ou não de Moisés.

Ou seja: a instabilidade contínua. Resta saber qual será o cálculo doloroso que SC terá até que as autoridades enxerguem a real prioridade para as pessoas. Por enquanto, o que se contabiliza são mortes e pacientes na fila das UTIs.

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