Circula com naturalidade uma desculpa de que os prefeitos têm mais dificuldade em tomar decisões diante do coronavírus por conta do ano eleitoral. Me parece, entretanto, nada utópico que a gestão da crise seja pela saúde e não das urnas. Aliás, o critério político nem deveria estar em jogo no momento em que Santa Catarina enxerga o coronavírus matar e lotar leitos de UTI. A discussão sobre a condição eleitoral para as decisões, inclusive, precisa ser vista como irresponsável.

Continua depois da publicidade

SC tem novas restrições em sete regiões com risco gravíssimo para coronavírus

Evidentemente, será raro enxergar algum prefeito que assuma esta condição. Nenhum deles dirá que agiu pensando nas eleições agora previstas para novembro. Caso isso ocorra, evidentemente, ficará escancarada a imprudência de uma atitude que pode custar vidas. Escolher a urna ao invés de uma decisão técnica, pautada em avaliações médicas, revela-se um ataque à população e não tão somente uma estratégia política.

Naturalizar que a questão eleitoral interfere no combate ao coronavírus é assinar um atestado de permissividade, com alto risco de que ele possa ser usado a qualquer momento. Um gestor, eleito pelas urnas, precisa tomar decisões à altura de sua responsabilidade, independentemente do ônus e do bônus que isso possa lhe trazer. Estes dois fatores são inerentes à obrigação de um prefeito, que é o de decidir.

A descentralização das restrições em Santa Catarina, desde junho, colocou as prefeituras em evidência, como elas mesmo haviam pedido ao governo do Estado. Mas a autonomia traz os dois lados. Com a curva subindo e o cenário piorando, muitos prefeitos subiram o tom de cobrança das ações estaduais. Justamente neste ponto está o “x da questão”: os municípios precisam agir e o Estado não pode se eximir quando isso não ocorre.

Continua depois da publicidade

A falta de entendimento entre as duas esferas, agravada nos últimos dias, evidencia uma disputa injustificável. Não há como achar normal a troca de acusações por quem deve agir. Caso contrário, são cidades reféns de disputas, pela briga com o Estado, e das urnas, pelo projeto eleitoral.

Leia também:

Prefeituras e governo do Estado se desentendem quando Santa Catarina mais precisa de união