Em um roteiro pelo Brasil para encontros com lideranças tucanas, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, estará em Santa Catarina na próxima quinta-feira (29). Ele virá a Florianópolis para se encontrar com o deputado Marcos Vieira, atual presidente estadual da sigla, e outros nomes como o deputado federal por Minas Gerais Aécio Neves, que atualmente mora na Capital catarinense. Em entrevista exclusiva à coluna, Perillo falou sobre as dificuldades atuais do PSDB no Estado. Além disso, confirmou que Aécio vai ajudar nos trabalhos de montagem do partido em SC.

Continua depois da publicidade

TRE-SC julga nesta terça-feira ações que podem cassar deputado federal

Leia abaixo a entrevista completa:

Essa vinda do senhor, ideia é dar uma aproximada, faltando pouco para a eleição?
É. Eu assumi o partido há menos de três meses e tomei uma decisão de viajar o país todo, estimulando novas filiações, filiações de jovens, atraindo para o PSDB, e agregando valor ao PSDB, atraindo pessoas novas, mas também fortalecendo as lideranças mais tradicionais, estimulando o lançamento de candidaturas às prefeituras, às câmaras, um trabalho meio que no sentido de trazer de volta o PSDB para o protagonismo nacional. Nós temos um objetivo de lançar agora algumas candidaturas às prefeituras de Capitais, candidaturas também, cidades médias, pequenas. Estamos nesse momento criando uma proposta por desenvolvimento urbano, uma proposta para as cidades, já que essa é uma eleição municipal, local. Então a ideia é a gente apresentar um conjunto de ideias-força, uma espécie de kit para que os nossos candidatos possam defender, claro, guardando as peculiaridades locais também, regionais, mas algumas ideias para serem defendidas. Políticas de saneamento, lixo, zeladoria, saúde, educação, segurança, naturalmente… Cultura, ciências e tecnologias, cidades inteligentes, então a gente está tendo uma comissão que eu criei, coordenada pelo ex-prefeito de Vitória, que é economista, Veloso Lucas, e outros prefeitos de cidades maiores, médias, menores, para a gente tratar disso nas eleições. A gente tem também um planejamento para eleger pelo menos um deputado federal por Estado, na próxima eleição geral, e aumentar substancialmente a bancada nossa que encurtou muito, que encolheu muito, até por falta de estratégia, por falta de candidatura a presidente. O PSDB nunca deixou de ter candidato a presidente desde a redemocratização. Lançou Covas, depois tivemos candidatos em todas as eleições, polarizamos com o PT esse período todo, e acho que a gente cometeu um erro grave ao não lançarmos candidatura própria na eleição passada. E a ideia também é que a gente tenha um conjunto de candidatos a governadores. Os governadores dão palanque, puxam deputados, então a gente tem todo um conjunto e a gente começa a preparar o partido para o médio e longo prazo agora.

O presidente aqui em Santa Catarina tem uma realidade difícil para o PSDB porque perdeu alguns prefeitos importantes recentemente, inclusive o prefeito Clésio Salvaro, de Criciúma, foi para o PSD. Como reconstruir o PSDB, que já teve governador com o Leonel Pavan. Como é que é essa conversa com o deputado Marcos Vieira para que essa reconstrução possa acontecer?
Eu acho que a gente tem que considerar os valores do partido, os conceitos, a história, o legado. Afinal de contas, o PSDB foi o partido que efetivamente mudou o Brasil com o Plano Real e com uma série de outras políticas públicas com responsabilidade fiscal, responsabilidade social. Universalizou a telefonia, teve uma presença forte no saneamento, na área da saúde com os genéricos, com o plano de saúde de família. Então a gente tem uma história. Agora a gente precisa voltar de novo a crescer. E para crescer tem que ter uma certa dose de pragmatismo também. E eu vou conversar com o Marcos Vieira exatamente sobre isso. Nós precisamos atrair pessoas para um partido que é um partido decente, um partido de Centro, um partido que busca ser a via certa, vem a ser a via agregadora desse país tão dividido. Mas tem que ter conceito, tem que ter proposta, tem que ter ideal, mas tem que ter pragmatismo. E eu vou conversar isso, acho que a gente tem que buscar. Se uma pessoa política importante que foi importante na nossa história saiu, tente trazer de volta, ou então buscar outros. Em todo partido existem pessoas descontentes e pessoas valorosas, então eu acho que é a hora de começar a trabalhar para que pessoas valorosas que estejam eventualmente em outros partidos possam vir para cá.

Continua depois da publicidade

Presidente, o senhor acha que o PSDB hoje sofre pela polarização?
Sofre, mas esse não é um mal que deva nos preocupar tanto, eu cito aqui três exemplos. O Eduardo Leite, pela primeira vez na história do Rio Grande do Sul, foi reeleito governador do Rio Grande, num lugar onde o bolsonarismo é muito forte, por outro lado também o lulismo é muito forte. O Eduardo trouxe pra o debate da eleição estadual para a campo estadual. Vamos debater o Rio Grande, os desafios, os problemas, as várias oportunidades que o Estado tem, e a tese dele foi amplamente vencedora no segundo turno. A governadora Raquel que é de Pernambuco, lutou contra a maré no Estado do Lula, onde o petismo é muito forte, o lulopetismo é muito forte, e ela da mesma forma trouxe o debate para o campo local e venceu as eleições. A mesma coisa aconteceu no Mato Grosso do Sul com o governador Riedel. Ou seja, são três governadores jovens que conseguiram de alguma maneira quebrar a polarização sem participarem de um lado ou de outro. Estão fazendo bons governos. Eu acho que a gente tem condições de quebrar essa polarização apresentando um caminho que seja o caminho adequado, o caminho do equilíbrio, o caminho da realização, da prática. Quer dizer, botar a mão na massa e fazer. Se tem uma coisa que o PSDB demonstrou no Brasil, nos Estados e no país, foi que é um partido que sabe fazer, que sabe entregar, principalmente integrar para entregar para os mais pobres. A gente tem que ter esse discurso que convença as pessoas de que esse caminho é o caminho da paz, é o caminho da reconciliação, é o caminho por onde o país possa crescer efetivamente.

A gente sabe que muitos analistas têm dito que essa é uma época em que os partidos e os políticos têm que se posicionar, dizer o que querem, de que lado estão teoricamente. E o PSDB fica nesse meio que o senhor se coloca. Mas o senhor acha que em algum momento o PSDB vai ter que fazer escolhas nesse cenário como um todo, ou em algum momento dizer que vai para um lado e vai para o outro, ou tem como construir ficando nesse caminho do PSDB que sempre foi um caminho histórico?
O que se tenta no país hoje com essa retroalimentação de Bolsonaro com Lula, de Lula com Bolsonaro, quer dizer, para um é fundamental que o outro exista porque se não ele deixa ele existir. Isso acaba de forma indireta, de forma subjetiva, induzindo o país à bipolarização. O país não tem só dois partidos, o país não tem só dois lados. Nós vivemos num país pluripartidário, num país muito diverso, né? Então é natural que a gente tenha mais partidos com candidaturas. Querer só duas candidaturas é negar a inteligência, é a burrice na política, é você proibir as pessoas de conhecerem alternativas que eventualmente possam ser alternativas mais viáveis, mais consequentes, que possam trazer melhores resultados.

Presidente, o senhor pensa que em 2026 o PSDB tem candidato a presidente?
Teremos candidato a presidente. Isso é certo. O PSDB também passa por um outro problema que é o seguinte, nós não somos um partido que adere a governos, nós não aderimos ao lulopetismo, eu era senador, fui convidado, nunca aceitei nem sequer discutir isso, e nós não aderimos também ao bolsonarismo. O PSDB votou a favor das reformas trabalhista, da Previdência e todas, do Ensino Médio, todas as reformas no governo Temer, no governo Bolsonaro, no governo Lula que foram importantes para o país. Vamos continuar votando conscientemente a favor do país. Agora, o PSDB nunca aderiu, alguns partidos aderem a qualquer lado, se é o lado da extrema esquerda adere, se é o da extrema direita adere, e não tem compromisso nenhum, nenhuma nitidez filosófica, ideológica, programática. Isso acaba facilitando a vida deles, eles ocupam ministérios, têm verbas, e consequentemente acaba tendo fundo partidário maior, exatamente porque consegue eleger mais deputados, por conta dessa prática. Nós pagamos pelo pecado, entre aspas, de sermos coerentes, e temos uma linha, uma condução. Nós não somos folha de bananeira, a gente não fica virando por um lado e por outro de acordo com o vento. Então isso nos diferencia, mas isso ao mesmo tempo nos dificulta. Nós temos que mostrar para a sociedade que nós somos um partido essencialmente correto em relação às nossas convicções, e não somos um partido que fica pulando de galho em galho. Isso é péssimo para o país. O país tem partido demais, conteúdo de menos, quantidade de mais e qualidade de menos. A gente precisa começar a pisar nessa tecla.

O candidato natural seria Eduardo Leite para o PSDB?
Hoje o pré-candidato nosso é o Eduardo Leite, tem todas as condições, pela juventude, pelo talento dele, pela competência, enfim. Eu acho que o Brasil precisa disso, que outros partidos também lancem jovens candidatos ou candidatos mais experientes. Para que a gente tenha estabelecido o debate. Não é a gente eleger porque odeia o outro. Eu vou votar no fulano porque eu odeio o outro fulano. Tem que eleger alguém que seja melhor para o nosso país. O nosso país é extraordinariamente rico. Um país diverso do ponto de vista regional. Um país de tantas oportunidades, de tantas riquezas, que não são exploradas por falta de competência. A gente tem que provar para o país que o debate não pode ser eu odeio esse e voto naquele. Eu odeio aquele e voto nesse. Não pode ser assim. Nós temos que votar no que for melhor. A gente não pode concordar com essa tese de que falta inteligência no país. Há gente e há políticos e há vida inteligente fora do extremismo.

Continua depois da publicidade

Nessa eleição municipal, o PSDB hoje tem quantos prefeitos e o senhor pensa que dá para fazer quantos?
Ainda não dá para a gente ter uma avaliação. A ideia é que a gente mantenha o número que a gente fez, ou aumente um pouco, mas isso vai depender de cada realidade local. Onde a gente tem governo, é natural que a gente eleja mais. Onde a gente não tem governo, é natural que a gente tenha um pouco mais de dificuldade. Faz parte, a cultura do Brasil é, governo no Estado tem força, copta, atrai, verbas, cargos, etc. E aí a gente tem que nadar contra a maré. Eu costumo dizer que quem elege candidatos de governo é máquina. Quem elege candidatos de oposição é o povo. Eu fui eleito em 1998, com 35 anos de idade, contra todas as máquinas. Quem é que me elegeu? Quem abraçou minha criatura? Foi o povo. E quando o povo resolve, é como estouro de boiada, vota. Tem muita gente que fica preocupada: “Mas não tenho estrutura, não tenho tempo de televisão, não tenho isso, não tenho aquilo”. Apresenta uma boa proposta que o povo abraça. E abraçando, esqueça, quem elege, quem vota é o povo. O povo precisa ter motivação, Precisa se convencer de que esse é o caminho mais adequado, mais certo.

Presidente, em Santa Catarina, o deputado Aécio Neves está morando aqui. Ele pode ajudar nesse processo aqui em Santa Catarina junto a Marcos Vieira?
Sem dúvida. Ele e o Marcos é que organizaram essa minha visita agora, na próxima quinta-feira (29 de fevereiro). Nós vamos fazer um debate sobre o partido, vamos conversar com muitas lideranças. E eu espero que a partir dessa visita a gente tenha metas claras para serem atingidas aí no Estado. É um Estado riquíssimo, belíssimo. A gente costuma chamar o estado de Santa e Bela Catarina. É um estado lindo, abençoado por Deus, tem tudo, tem o mar, tem serra, tem produção de vinho, tem produção agrícola, tem turismo, tem cidades históricas, é um estado belíssimo, e o PSDB tem que se inserir nesse contexto.

Leia também:

Políticos de SC foram ao ato de Bolsonaro para se manterem “vivos” eleitoralmente