Travei. Como poucas vezes aconteceu comigo por assuntos de trabalho, foi uma manhã estagnada. Fiquei travado no ponteiro das 9h deste 5 de abril de 2023. Foi por volta disso que chegaram as primeiras notícias de crianças assassinadas cruelmente enquanto brincavam na creche. Só pensei no meu filho, de quase três anos. Depois comecei a sentir dor, algo inexplicável. Percebi que não há nada que descreva o que vimos hoje. Nada pode ser usado para transmitir a sensação de crianças mortas, seja qual for o motivo. Tente descrever, e verás que não há como.
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Assim, veio a dor de pai: “Como não salvamos essas crianças? Como a nossa sociedade pode ter deixado isso acontecer?”. Como pai, só penso em proteger a todo instante. Quando não consigo, sinto muita dor, culpa. É por isso que nós, como sociedade, precisamos pedir perdão aos quatro anjos brutalmente levados por um assassino.
Falhamos, fomos ineficazes na proteção. Sei lá se deveríamos ter aumentado a segurança, se deveríamos ter afastado o criminoso mais cedo. Só sei que precisamos no desculpar.
É um pedido de desculpas por não conseguirmos protegê-los enquanto eles brincavam, por permitirmos que um criminoso invadisse a creche onde todos brincavam para espalhar violência, por não deixarmos que eles voltem para casa no final de tarde no colo dos pais, por não termos evitado a crueldade chegar até crianças, por não deixarmos elas retirarem as mochilas penduradas na grade.
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Quando o dia terminar, a dor será ainda maior. Porque seria a hora de as crianças chegarem em casa para brincar, assim como acontecia até ontem. Mas hoje não vai dar. Porque hoje falhamos, deixamos o terror prevalecer.
E disso, a gente como sociedade, não deve se perdoar. Hoje, nós falhamos. Hoje, nós perdemos.
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