A expressão “velha política” tornou-se a queridinha dos “novos políticos”. Ganhou eleitores, motivou campanhas, estampou slogans. Tudo para atrair os eleitores cansados da corrupção, das indicações partidárias e da troca de favores. Sob o guarda-chuva da “renovação”, vieram as promessas de integridade, descolamentos dos partidos e indicações técnicas.

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Esta última, aliás, tornou-se a oferta mais falada, afinal seriam deixados de lado os correligionários. Teriam prioridade pessoas com melhor currículo, sem a necessidade básica de filiação partidária. A onda de renovação nas eleições 2018 de foi avassaladora, apoiada nas muletas da “nova política”. O governador Carlos Moisés da Silva (PSL), por exemplo, beneficiou-se deste movimento, capitaneado por Jair Bolsonaro (PSL).

Após a posse, em 1º de janeiro, os novos governos ganharam a real oportunidade de colocar em prática o discurso de campanha: indicar nomes técnicos, priorizar especialistas. Moisés, sejamos justos, até deu um sinal disso no primeiro escalão. Escolheu servidores efetivos, como havia prometido.

Deixou no cargo nomes ligados ao MDB, muito conhecido pela “velha política”, sob o pretexto da qualidade profissional dos selecionados, além de serem funcionários de carreira, outro pré-requisito.

No segundo escalão, entretanto, surgiu a realidade. Na Santur, empresa de promoção de turismo do Estado, Tiago Savi foi o escolhido. Formado e com pós-doutorado, além de atuação reconhecida na área, foi pressionado a sair antes mesmo de assumir por não ter votado em Bolsonaro. Virou alvo por colocar em sua página no Facebook uma imagem com a frase: “não sou petista, mas contra o ódio sou Haddad”.

A qualificação técnica do profissional, tão pretendida pelo governo, ficou em segundo plano. Pesou o viés ideológico, o voto contrário. Savi, então, preferiu pedir o afastamento da função.

Depois de Savi, a tenente-coronel Edenice Fraga fico na mira dos aliados dos PSL de Moisés. Contemporânea de formação militar do novo governador, passou por unidades em diferentes regiões catarinenses, até se aposentar em Florianópolis. Mulher negra, nasceu no morro do Mocotó, conviveu com a periferia e atuou diretamente na causa.

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Por isso foi nomeada para ser a coordenadora de Igualdade Racial. Não durou cinco dias no cargo.

Teve seu nome lançado aos tubarões do PSL e recebeu a exoneração quando começava a esboçar projetos para o setor. O pecado de Edenice? Ter apoiado Marina Silva (Rede) na última eleição.

O currículo, em ambos os casos, não teve preferência. Moisés e seu secretário da Casa Civil, Douglas Borba, reiteraram nos primeiros dias de governo as opções técnicas. Buscavam, apenas aparentemente, nomes com perfil e qualificação. Mas cederam nas primeiras reclamações de partidários preocupados com a ideologia dos novos nomeados.

Independente da cor da camisa, o governo precisa atender à diretriz estabelecida pelo próprio Moisés em seu discurso de posse: “o que a sociedade espera é por uma Santa Catarina boa não para quem governa, mas para todos que vivem aqui – sem exceção”. Caso contrário, seguir na linha de ceder aos partidos em detrimento da qualificação em breve pode retirar Moisés do rol dos “novos” e “diferentes” para incluí-lo na famigerado do quadro dos “velhos políticos”.