Assim como em Brasília, agora Santa Catarina tem uma crise desnecessária no centro da tomada de decisões em meio ao período conturbado de coronavírus. Publicamente, a vice-governadora do Estado, Daniela Reinehr, questionou os valores da contratação do hospital de campanha que funcionará em Itajaí e foi rebatida durante a coletiva de imprensa diária do governador Carlos Moisés da Silva nesta quarta-feira (15). A relação entre os dois, que já não era às mil maravilhas, agora está escancaradamente em conflito.

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Temos oficialmente no Estado uma versão dos desentendimentos entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Um acirramento de ânimos que poderia se resolver dentro de uma sala de reuniões agora torna-se público no momento em que as pessoas já estão inseguras por conta do avanço do coronavírus.

É natural que haja divergência de entendimentos sobre investimentos, prioridades, custos. Faz até bem que isso ocorra dentro de um núcleo de poder justamente para que a ideia seja debatida na intensidade necessária. Para isso, porém, é necessário um alinhamento de gestão. Escancarar um descontentamento publicamente para se manifestar não contribui para o processo, mas traz justamente o efeito contrário.

A vice-governadora se utilizou de uma aliada bolsonarista, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), para repercutir nas redes sociais sua contrariedade ao projeto. A parlamentar divulgou o valor de R$ 135 milhões para o custo total do hospital de campanha ao somar o preço do custeio mensal das operações que já está dentro dos R$ 76,9 milhões a serem pagos de acordo com o contrato. Durante a coletiva desta quarta-feira, Moisés respondeu a pergunta sobre os valores e disse: "temos responsabilidade para não divulgar notícia falsa, seja lá quem for. Pode participar do poder público, pode ser integrante da administração pública direta e indireta, pode ser cidadão", em mais uma clara alusão ao episódio envolvendo a vice.

A relação de Moisés e Daniela é de altos e baixos neste um ano e quase quatro meses de gestão. Os dois começaram muito alinhados. A vice-governadora estava em praticamente todos os atos do governo. Sempre ao lado do governador.

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Aos poucos o distanciamento foi aumentando, principalmente quando Moisés adotou posicionamentos mais distantes da ala bolsonarista. Dentro do jogo político, a separação total ocorreu quando ele preferiu ficar no PSL e ela seguir o caminho do presidente Jair Bolsonaro no novo partido, o Aliança Pelo Brasil.

Esta desvinculação partidária é outro processo natural do processo político o qual o governo do Estado não se desliga. O que está fora disso tudo, e assim deveria ser não somente em momentos de crise, é o conflito desnecessário. O clichê precisa ser aplicado à risca também por quem comanda Santa Catarina: o momento pede união. O contrário disso só surge agora para atrapalhar.