Mesmo em meio à pandemia do coronavírus, o governo Bolsonaro criou uma nova crise, e desta vez perdeu o nome de maior popularidade do seu ministério. Sérgio Moro não apenas pediu demissão como também expôs denúncias graves de ações diretas do presidente da República. As afirmações do agora ex-ministro podem causar responsabilizações para Jair Bolsonaro. A fábrica de crises da atual gestão ganhou uma proporção sem dimensões, tanto politicamente como do ponto de vista administrativo. O episódio da Polícia Federal (PF) se soma a outros polêmicos protagonizados recentemente e mostram que o atual governo vai ultrapassando mais limites.

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A interferência na PF, como denunciou o ex-ministro, atinge diretamente o combate à corrupção no Brasil: "A questão não é tanto quem colocar, mas por que trocar". Essa afirmação de Moro resume a preocupação dos brasileiros. Não há motivo aparente para a substituição do cargo número 1 da instituição que faz trabalhos constantes contra a corrupção. O sinal de interferência na ação dos agentes da PF não derruba apenas a carta branca recebida pelo ex-juiz federal para assumir o ministério da Justiça e da Segurança Pública, mas também prejudica a confiança dos brasileiros nas ações contra a corrupção.

O fato de Bolsonaro pedir para ter acesso às investigações foge à regra e carece de resposta, de uma apuração rígida. O que levou o presidente da República a querer isso não pode ser escondido da população. Quais motivos concretos poderiam fazer uma troca desse nível de importância ocorrer no atual cenário.

Outro ponto a ser destacado: Moro afirmou que não participou do ato de exoneração de Mauricio Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF). O documento fala que a saída ocorreu "a pedido", como se o delegado tivesse solicitado a demissão. Mais uma denúncia que se soma às falas que causaram perplexidade nesta sexta-feira.

A saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, há alguns dias, foi um ato de repercussão, mas que o governo conseguiu contornar com ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, por exemplo. Bolsonaro criou mais uma crise, como se já não estivéssemos muitas para se preocupar. Nesta, ele perdeu Moro e boa parte de quem o apoiava pela escolhas voltadas ao combate à corrupção. Pelo histórico, sabemos que não há limite para o presidente da República. Resta saber os limites que serão dados daqui para frente ao que o ex-ministro denunciou.

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