A fritura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sob o olhar dos brasileiros chegou ao ponto máximo com a demissão batendo à porta nesta segunda-feira, 6 de abril. O presidente da República, Jair Bolsonaro, no entanto, manteve o ex-deputado federal no cargo sob pressão por conta do trabalho feito no combate ao novo coronavírus. No saldo de mais um capítulo da novela entre os dois, Mandetta saiu mais forte e Bolsonaro enfraquecido.

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Segundo os bastidores do novo confronto relatados por colegas jornalistas que acompanham o Palácio do Planalto, ministros militares como o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, foram os responsáveis por segurar o ministro. Além disso, Bolsonaro sofreu com forte pressão vinda do Congresso e do Judiciário. Há que se levar em conta também a aceitação do brasileiro em relação ao trabalho de Mandetta.

Ao seguir pela linha de critérios técnicos, o ministro transmite segurança em um momento em que, naturalmente, há preocupação instalada no país por conta do avanço do coronavírus. O clima não pede mais agravantes, mas Bolsonaro insiste em uma crise com o seu principal ministro diante do quadro de pandemia. A insistência do presidente em enfrentar Mandetta, porém, colocou o ex-deputado federal em um patamar elevado. Hoje ele pode ser considerado um ministro da linha de frente, assim como Paulo Guedes, na Economia, e Sérgio Moro, na Justiça e Segurança Pública.

Bolsonaro sempre pregou o "ministério técnico" montado por ele no começo da gestão. O nome técnico de Mandetta, porém, ficou na berlinda. Motivo: ineficiência? resultados ruins? polêmicas? Não, Mandetta se tornou alvo por ser técnico demais. Esta é a prova de que o presidente da República não prioriza profissionais qualificados em seu primeiro escalão. A regra número 1, como se comprova definitivamente, é estar alinhado ideologicamente ao seu projeto. Mesmo que isso signifique estar totalmente contra o que recomendam especialistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O novo episódio de enfraquecimento do presidente da República se deve, mais uma vez, exclusivamente a atos próprios. Como disse acima, Mandetta não protagonizou episódios que poderiam causar danos ao governo. Mas Bolsonaro, sim. Ao enfrentar a linha de frente da Saúde em meio a uma pandemia, ele cria um ambiente de instabilidade.

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Cabe ao presidente da República levar segurança e tranquilidade aos brasileiros, ainda mais neste momento. Como Bolsonaro insiste em contrariar apontamentos técnicos e confrontar quem discorda dele, Mandetta ganha ainda mais força e tem respaldo justamente por fazer aquilo que se esperava de seu chefe.