Desde a eleição de 2018, quando Carlos Moisés da Silva (PSL) chegou ao governo catarinense, a trajetória de Santa Catarina renderia um roteiro de série de televisão. O outsider bombeiro aposentado saiu do anonimato para a Casa D’Agronômica repentinamente, e em menos de dois anos de gestão foi do céu ao inferno com o risco de ser afastado definitivamente do cargo sem nem sequer completar metade do mandato. O capítulo da vida real desta sexta-feira (27), certamente finalizaria a primeira temporada. Moisés foi afastado do função por falta de articulação política, mas em 30 dias buscou aproximações e contou com o aval de políticos, além dos votos jurídicos, para se salvar do impeachment. Conseguiu com larga vantagem.

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Começa nesta sexta-feira, então, a segunda temporada do governo Moisés. No final melancólico da primeira, o período ficou marcado por um governador isolado, com apenas seis votos na Alesc, um escândalo dos respiradores e a falta de ação imediata para o controle da pandemia do coronavírus. A derrota acachapante nas duas votações de impeachment na Assembleia deu o sinal de que se pretendesse continuar como protagonista no roteiro da vida real catarinense, o bombeiro aposentado precisaria mudar.

Por isso, foi afastado pela política com a missão de se refazer politicamente. Nos 30 dias em que Daniela Reinehr assumiu a cadeira de governadora, Moisés correu atrás do tempo perdido e fez a lição de casa naquilo que era mais criticado. Buscou partidos, conversou com antigos rivais e recebeu os apoios que precisava. Além disso, contou com um erro no roteiro dos deputados, que pretendiam afastar não só o governador, mas também a vice-governadora. Como não conseguiram, preferiram ter Moisés como ator principal. E a votação desta sexta-feira é exemplo disso. Três deputados mudaram de votos como demonstração de que a política escolheu o pesselista para ficar.

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Para a segunda temporada, Moisés sinaliza que pretende escrever um roteiro diferente. Mesmo assim, já surpreende na sinopse logo nas primeiras horas: colocou Eron Giordani, até ontem braço direito do seu mais recente rival, Julio Garcia (PSD), na Casa Civil. Mais um episódio catarinense digno de roteiro de série televisiva. Giordani dará ao governador a relação política antes inexistente, mas o deixa exposto para eventuais críticas pelas contradições. Em um mês e meio, não era possível imaginar Moisés e Julio nem sequer juntos no mesmo espaço. Agora o sinal é de que ambos estão juntos no novo governo.

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Mas nem só de política viverá o governador. Aliás, o catarinense aguarda pela retomada do comando da pandemia, um plano para o verão, a retomada econômica, o desenho do turismo com coronavírus. As missões de Moisés na sua segunda temporada são urgentes, distantes de uma ficção televisiva. A realidade está posta, inclusive com 13 das 16 regiões do Estado pintadas do vermelho no mapa da pandemia. Acima da política, o governador em seu segundo momento terá que retomar o comando. Mais do isso, evitar que cenas se repitam sob o risco de Santa Catarina continuar refém da instabilidade.

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