Os vazamentos no reservatório da Casan que rompeu nesta quarta-feira (6) no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, foram motivo de uma troca de e-mails entre a companhia e a Gomes & Gomes Ltda, empresa responsável pela obra, em maio de 2022. Nas mensagens, um representante da empresa responsável pelo sistema de água e esgoto na Capital catarinense pedia que a construtora fizesse reparos para evitar as infiltrações. Como resposta, a Gomes & Gomes afirmou que se tratava de algo comum dentro do testes que estavam sendo feitos.

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Casan foca em empresa que construiu reservatório e questionará laudo que atestava funcionamento

A obra foi inaugurada em março de 2022. Dois meses depois, moradores do Monte Cristo acionaram a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal. É o que diz o e-mail enviado pelo engenheiro sanitarista da Casan Maurício Silva Andrade, em 10 de maio de 2022, às 14h28min. Ele escreve o texto direcionado ao “Eng. Luiz”, que seria o responsável pela obra na empreiteira: “Boa tarde Eng. Luiz, A Gerência de Operacional da CASAN informou que na noite de ontem a defesa civil, corpo de bombeiros e guarda municipal foram acionados pela população devido as infiltrações apresentadas pela estrutura dos reservatórios do bairro Monte Cristo. O reservatório está sendo esvaziado. Solicitamos apresentar as medidas corretivas a serem tomadas e o cronograma para os reparos na impermeabilização”.

Em seguida, às 15h42min do mesmo dia, o gerente de Construção da Casan, Felipe Costa Leite, reitera a preocupação: “Prezado Eng. Luiz, Essa situação é extremamente preocupante e já tem tomado proporções enormes, com a atuação das entidades elencadas pelo eng Maurício. Precisamos da intervenção do Construtora Gomes de forma urgente para reparar os pontos identificados e realizar uma revisão geral do sistema de impermeabilização. Solicito a apresentação urgente do cronograma solicitado pelo eng Maurício”.

“Procedimento comum”

A resposta da Gomes & Gomes foi dada no dia seguinte, 11 de maio, às 15h35min. O e-mail é assinado por Luiz Neto, engenheiro da empreiteira. Ele começa alegando que “teste de estanqueidade de um reservatório como é de conhecimento de todos é um procedimento comum, e justamente este teste aponta os pontos de infiltração”. E segue: “Foi a primeira vez que foi colocado água neste reservatório. Porém pelo desconhecimento e falta de informação de alguns moradores de que se tratava de um teste de estanqueidade, os mesmos acionaram a defesa civil e os bombeiros, por isto tomaram tais proporções,
porém ficou evidente que a questão estrutural do reservatório atendeu aos esforços sofridos”.

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O e-mail do engenheiro ainda diz: “O procedimento para encher o reservatório foi executado pelo setor de operação da CASAN, liberando uma vazão baixa de água para que o reservatório demorasse vários
dias para ficar cheio e que o mesmo fosse recebendo a carga e pudéssemos ir avaliando. Vimos que não haviam fissuras e a estrutura estava intacta. Fomos comunicados pelo engº Mauricio na segunda feira (09/05/2022) sobre a ocorrência de vazamentos. Nós já tínhamos ciência de algumas infiltrações, mas como tinha chovido bastante nos dias anteriores impossibilitou a localização com exatidão dos pontos de ocorrência. Na segunda feira fomos na obra, tiramos fotos e vídeos de alguns locais onde o vazamento necessitaria de uma intervenção maior. Os demais pontos seria somente um reforço na impermeabilização”.

“Nenhum ponto de falha estrutural”

No e-mail, o engenheiro da Gomes & Gomes diz que: “O reservatório não apresentou nenhum ponto de falha estrutural, ressaltamos que as infiltrações são comuns neste tipo de teste de estanqueidade. Na terça feira (10/05/2022) o reservatório foi esvaziado, antes mesmo que o material impermeabilizante e expansivo pudesse reagir por completo, pois necessita de um tempo de contato com a água de no mínimo 72 horas para reação. Quanto ao cronograma de execução dos reparos: Sugerimos que o reparo na impermeabilização seja feito por etapas, ou seja, será iniciado pela célula que apresentou o menor número de vazamentos, para que as correções possam ser feitas o mais breve possível e possamos coloca-lo em operação. Posteriormente passaríamos para a outra célula. Estes reparos serão executados assim que recebemos os materiais necessários. Fizemos um levantamento do material para a execução destes serviços, e estamos aguardando o prazo de entrega dos fornecedores, assim que tivermos este levantamento de prazo podemos fazer a programação mais precisa do inicio deste reparo, porém queremos deixar claro e é de conhecimento da CASAN que o teste de estanqueidade foi executado como em todas as obras de reservatórios executados para a CASAN”.

O que ocorreu depois

A coluna apurou que, na sequência da troca de e-mails, um técnico da Casan encaminhou um gráfico de nível das duas “células”, que são as estruturas dos reservatórios existentes na região, para “análise mais adequada”. O profissional diz que a “célula 2, que vaza mais, ficou com 100% durante 4 dias”. Este e-mail foi enviado no dia 13 de maio, às 16h49min. Na sequência dos e-mails, o serviço de impermeabilização foi executado no local.

O que diz a empresa

A coluna procurou o representante da Gomes & Gomes, o engenheiro Jhon Beier. Ele afirmou, em mensagem: “ainda estamos transtornados e buscando assessorar nosso cliente CASAN no atendimento às solicitações e orientações deles. As origens de fissuras e trincas no concreto são decorrentes de algumas situações e são aceitáveis em estruturas de concreto armado. A norma da ABNT, permite e tolera. NBR 6118. Infelizmente ocorreu o pior quadro. Vamos aguardar o retorno da perícia que deve apontar o real motivo desse colapso. Quando então saberemos onde houve a falha. Nesse momento tudo é especulação. Desculpe não ter as respostas que tanto buscamos nesse momento. Mantemo-nos a total disposição para mitigar o máximo possível dos transtornos”.

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