Impressionam a falta de convicção e os erros do governo de Santa Catarina nas medidas contra o coronavírus. Nos últimos dias, entre idas e vindas, o Estado conseguiu desmobilizar a maioria das suas próprias iniciativas. Pouco tempo depois de anunciar ações como o toque de recolher, o governo aparece para fazer ponderações e amenizar os regramentos, além de não aplicar uma fiscalização eficiente. Dessa forma, desmonta as próprias regras no momento de maior atenção com a doença por conta da temporada de verão.
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Há pelo menos três fatos concretos que demonstram a perigosa falta de convicção do governo de SC. O primeiro deles foi o “toque de recolher” anunciado em novembro. Pela regra, as pessoas seriam proibidas de circular entre a meia-noite e 5h.
Mas, poucas horas após a medida entrar em vigor, o Estado emitiu uma nota explicando que não se tratava de um toque de recolher, e sim uma recomendação para que as pessoas evitassem circular durante a madrugada. Na prática, a regra não existiu. Nem mesmo um balanço da fiscalização foi apresentado.
Depois vieram as medidas mais recentes. Uma delas é a da obrigatoriedade do uso de máscara na praia. A portaria da Secretaria de Saúde determina que o equipamento precisa fazer parte da rotina do banhista, que pode retirá-lo somente para entrar na água. Mas o governador Carlos Moisés de Silva foi às redes sociais para dizer que as máscaras não serão exigidas nas praias.
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Por fim, a secretaria também havia estabelecido bandeiras com cores conforme a ocupação na areia. Numa aparente falta de comunicação interna, o Corpo de Bombeiros veio à tona para manifestar preocupação com o sistema por conta do mesmo modelo usado para sinalizar a condição da água do mar aos banhistas. Isso levou, inclusive, o governo a retirar o modelo de bandeiras das orientações oficiais sobre o coronavírus.
O grande problema dos erros acima é a mensagem que fica para a população catarinense e os turistas. Um governo sem pulso firme abre brecha para a desobediência civil. Ao decidir poucos antes do começo da temporada pela liberação de boa parte dos setores, incluindo hotéis e pousadas, o Estado teve duas derrotas na Justiça e enxergou ainda menor a sua força no enfrentamento à pandemia.
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Sem estratégia clara, com fiscalização falha e idas e vindas, o governo catarinense perde o protagonismo no momento em que mais precisaria estar na linha de frente. O preço dos erros pode ser caro caso o Estado não retome o comando com regras firmes e convictas.