Nas 56 páginas do contrato assinado em 14 de fevereiro de 2008, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Autopista Litoral Sul, subsidiária da OHL Brasil, que depois passou a se chamar Arteris, selaram o acordo para a concessão de 383,3 quilômetros de extensão das BRs 101, 116 e 376. Os trechos envolvem estradas em Santa Catarina, na parte Norte da 101, e no Paraná, com a 116 e a 376. Quatro dias após a assinatura do contrato, em 18 de fevereiro, iniciou-se efetivamente a administração da concessionária nas rodovias. Naquela data também começaram a contar os prazos definidos no edital da licitação vencida pela empresa que, em 2012, passou a se chamar Arteris Litoral Sul. O cronograma previa diversos serviços e obras, só que uma delas se destacava: um Contorno Viário de 47,3 quilômetros em duas pistas entre Palhoça e Biguaçu, na Grande Florianópolis. A concessionária vencedora da licitação teria os quatro primeiros dos 25 anos de contrato para cumprir a meta. Mas, justamente, no principal serviço previsto pela ANTT, o cronograma não foi cumprido.
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Agora, em 2024, com 16 anos do início do contrato e 12 de atraso pelo que foi previsto pela agência reguladora, o chamado Contorno de Florianópolis será entregue. Não sem antes um atraso habitual dentro do histórico constante de mudanças de datas. A última promessa da Arteris era de que em 31 de julho deste ano os trabalhos seriam concluídos. Não foram.
No dia 1º de agosto os serviços continuavam, e uma das estruturas para ligação entre bairros em Palhoça ficará inoperante num primeiro momento. A inauguração oficial será somente em 9 de agosto, quando a comitiva presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estará presente para o ato de liberação. Até lá, a Arteris terá mais alguns dias para entregar definitivamente o que deveria ter concluído em fevereiro de 2012.
O histórico do Contorno, entretanto, revela uma série de erros capazes de protagonizar um atraso digno de prejuízos imensuráveis para Santa Catarina. Ao longo dos anos, o projeto original sofreu modificações, que foram aprovadas somente em 2011, com os detalhes burocráticos concluídos em 2012. O traçado passou a ser maior, de 50 quilômetros. Foi somente em maio de 2014 que a obra efetivamente se iniciou.
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Mesmo assim, nos últimos 10 anos, houve mais uma série de episódios que geraram novos atrasos, como a troca de empreiteiras ineficientes para o tamanho dos serviços e reequilíbrio no contrato para a inclusão dos túneis duplos em Palhoça. O pedágio na BR-101 chegou a sofrer aumento de 44% para atender aos valores necessários. Isto para atender a uma modificação do traçado feita em 2018 depois que a prefeitura de Palhoça autorizou um loteamento habitacional na região por onde o Contorno passaria, o que incluiu os túneis. Justamente por conta das mudanças no projeto é que o trecho palhocense foi o mais atrasado, enquanto em São José e Biguaçu as obras já haviam sido concluídas.
O senador Esperidião Amin (Progressistas-SC) montou uma equipe de fiscalização nos últimos anos para acompanhar os trabalhos no local, emitindo relatórios mensais. Segundo ele, “todos nós sofremos, mas ninguém sofreu mais do que os moradores” da região. Amin vem manifestando preocupações operacionais na nova rodovia, como a ausência de uma estrutura para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) operar plenamente no trecho. A ocupação do entorno também tem mobilizado autoridades. Desafios do tamanho da relevância do Contorno para o Estado.
Veja abaixo entrevista com Cesar Sass, superintendente da Arteris Litoral Sul:
O que Arteris espera ver de mudança no tráfego da Grande Florianópolis com a liberação do Contorno Viário?
Estimamos que cerca de 18 mil caminhões utilizem o Contorno Viário por dia, diminuindo significativamente o fluxo de veículos pesados no eixo principal da BR-101 na região metropolitana da capital catarinense. Esse volume com certeza irá minimizar o trânsito na região, principalmente em horários de pico, e também diminuir o número de acidentes graves envolvendo caminhões e motociclistas. A liberação do Contorno Viário, mais do que impactar no trânsito, vai aumentar a segurança viária de quem trafega na região.
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Quais as lições que uma obra com o histórico do Contorno Viário deixam para a concessionária?
Executamos uma das maiores obras de infraestrutura rodoviária do Brasil e temos muito orgulho disso. O Contorno Viário da Grande Florianópolis foi uma obra complexa, mas durante todo o processo estivemos cercados dos melhores profissionais para entregarmos uma rodovia com a excelência que a sociedade catarinense merece. O Contorno de Florianópolis é uma rodovia moderna, com quatro túneis duplos que têm uma tecnologia equiparada aos grandes dispositivos do mundo. Aprendemos muito ao longo do processo, mas estamos extremamente orgulhosos com o resultado e com essa entrega.
A partir de agora, com o Contorno liberado, quais as preocupações da Arteris na nova ligação?
A segurança dos usuários da rodovia sempre será o foco do nosso trabalho. A Arteris Litoral Sul está entregando uma das rodovias mais modernas do Brasil, com soluções que vão permitir uma viagem mais segura e confortável a transportadores e demais usuários do Contorno Viário da Grande Florianópolis. Os equipamentos instalados ao longo do Contorno de Florianópolis, como sistemas tecnológicos dos túneis, vão permitir um monitoramento constante de quem passar pela rodovia e um ágil atendimento em situações de emergência.
Com o Contorno pronto, como vocês enxergam o futuro da BR-101 na Grande Florianópolis?
Acreditamos que o trecho da BR-101 na Grande Florianópolis impactará positivamente o desenvolvimento econômico ao facilitar a circulação das pessoas e cargas. Com menos tráfego de veículos pesados, os moradores da região, que usam a rodovia para deslocamentos curtos, terão mais comodidade. A estimativa é a redução do tempo de percurso em até 50%, o que irá possibilitar uma melhor qualidade de vida para as pessoas.