Fico pensando como alguém tem saudade daquilo. Me recordo de ter ido acompanhar uma apuração eleitoral lá pelos idos da década de 1990. Como morava no interior do Rio Grande do Sul, onde nasci, os votos eram contabilizados num CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Todas as urnas chegavam lá e eram checadas. Mesas e mesas ficavam espalhadas pelo salão. Muita gente participava da contagem, além dos fiscais dos partidos. E era assim, até que no dia seguinte a gente ficava sabendo pelo rádio o resultado da eleição.
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Anos depois, a chegada da urna eletrônica foi uma libertação, pelo menos daquelas horas e horas do pessoal contando votos no CTG. Quis o destino, então, que o jornalismo me apresentasse outra forma de acompanhar as apurações. A rádio onde trabalhei tinha o ritual de enviar equipes para os colégios eleitorais e antecipar alguns resultados das urnas pelos boletins impressos. Para quem não sabe, cada urna tem uma espécie de relatório final com o resultado. Os mesários imprimem os papéis e os deixam disponíveis para quem quiser.
Isso comprova que já há uma forma de auditar a votação. Os defensores do famigerado “voto impresso” alegam que precisam do papel para comprovar a lisura do processo. É claro, bem sabemos, que esse é apenas um motivo dos bolsonaristas para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro na porta de 2022. O roteiro é conhecido, e vem dos EUA. Donald Trump fez a mesma coisa. Ao final, ele perdeu a eleição usando o discurso golpista que não vingou, a não ser para os próprios apoiadores.
Tudo indica que o Brasil terá a mesma discussão no ano que vem, independentemente do resultado. O motivo real não será a qualidade da urna eletrônica. A urna é apenas o bode expiatório. Porque, tecnicamente, nada foi comprovado contra o equipamento. O sistema é testado por hackers, protegido por um sistema de segurança e com histórico exemplar. O que se vê é a tentativa de uma mudança do da regra do jogo para atacar a democracia.
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As eventuais necessidades de evolução no sistema eleitoral brasileiro devem ficar para outra hora. O momento pede cautela sob pena de um retrocesso. Neste caso, será um retrocesso impresso. A urna eletrônica precisa de proteção, assim como a democracia brasileira.
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