O deputado estadual dos áudios carregados de machismo e ofensas às mulheres e o youtuber defensor de um partido nazista estão no centro das atenções sob os holofotes corretos. Ambos erraram, e sofrem as consequências do preconceito exalado. Mas, como bem sabemos, o tempo passa e a memória fica curta. O que será de ambos ali na frente? Os brasileiros são acostumados a premiar quem comete erros assim. O Brasil é campeão em recolocar em evidência pessoas marcadas por episódios semelhantes ou por comportamentos reprováveis. Logo, logo eles aparecem eleitos ou com audiências históricas.

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Dentro da atual onda de preconceitos e incentivos à intolerância na última semana, vamos recordar do “comentarista” de um canal de TV que levantou a mão em um aparente sinal nazista logo após falar justamente sobre o episódio envolvendo o youtuber citado ali no começo do texto. O que se especula atualmente? Que o “comentarista” vai concorrer a deputado federal. Pelo histórico do resultado das urnas brasileiras, não duvidemos de sua eleição com alta votação.

Já o deputado que enviou os áudios ofensivos às ucranianas pretendia concorrer a governador de São Paulo. Ele foi eleito para a Assembleia Legislativa paulista com 470 mil votos, a segunda maior votação entre os parlamentares. Com a divulgação dos áudios, tudo indica que ele vai recuar da ideia de disputar o governo. Mas não deve deixar de disputar outro cargo. Será mais uma oportunidade para enxergarmos como o brasileiro reage aos comportamentos que deveriam gerar uma reprovação sumária.

Longe de uma comparação, mas abrindo outra vertente de como recompensamos de forma errada, lembremos do Tiririca, o “pior do que tá, não fica”. Resultado? Deputado federal mais votado do Brasil em 2010 com este bordão. Premiado pela bizarrice. Poderíamos enumerar muitos outros casos de eleitos que passaram por situações constrangedoras ou carregaram discursos, no mínimo, questionáveis. Em todas elas, ficou clara a demonstração de que premiamos os incompetentes.

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E não é por falta de opção. Tanto nas urnas como em trabalhos feitos na internet, há muita gente produzindo coisas boas, corretas e éticas. As redes sociais estão recheadas de intolerância, mas também de qualidade. Basta recompensar corretamente e dar valor aos que, acima de tudo, respeitam. Enquanto seguirmos premiando com cargos públicos e audiência os exemplos negativos, haverá um estímulo para o erro.

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