Lembro bem daquele 3 de dezembro de 2000. Era começo da tarde, Gustavo Kuerten enfrentava André Agassi pela final da Copa do Mundo do tênis, um torneio dos melhores jogadores do ano. Em cima da mesa da sala de casa havia um bolo de chocolate para o meu aniversário. Guga venceu numa disputa em que comemorei cada ponto como se fossem presentes. Até hoje trago aquele dia com carinho, e ele me veio de novo à cabeça dias atrás, quando Guga fez 45 anos.

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Sem puxa-saquismos ou coisas do gênero, talvez ele seja o meu principal ídolo, assim como o de uma geração que passou a encarar o tênis como uma paixão. Não que esse seja bem o meu caso, até porque nas diversas tentativas de umas disputas no saibro, não guardei esperança de futuro. A raquete segue guardada até hoje, aliás, num sinal de que a idolatria iniciada por Guga deixou marcas.

Já que somos um país movido a futebol, teria também outros exemplos a citar, como os Ronaldos e Marta. Da Fórmula 1 veio o Ayrton Senna, da música poderia citar diversos, na literatura há uma enxurrada. Mas foi o tenista manezinho que me marcou por fatores simples como as conquistas e a espontaneidade, porque Guga não inventa.

Dias atrás, nessa toada de falar sobre ídolos, me peguei pensando em quem meu filho terá como referência. Os tempos são outros, claro, então talvez o que o atraia no futuro seja e-sport ou algo do entretenimento. Mesmo assim, por enquanto sou daqueles saudosistas que ainda pensam: “não se fazem mais ídolos como antigamente”. Espero estar errado para que João Pedro consiga se espelhar em bons exemplos, que começam com os ídolos de casa, mas também vêm de outros lugares.

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O problema é que a atual geração dos que tentam ser referência de algo fazem justamento o contrário da principal característica de Guga. É tudo montado, tudo feito para repercutir de uma forma ou outra, principalmente nas redes sociais. Os potenciais candidatos à idolatria esbarram nas próprias pernas quando tentam criar um estilo para agradar. Eles se esquecem, porém, que o carisma, um dos principais atributos, não se compra e nem se inventa.

Ninguém consegue permanecer no pódio da idolatria por muito tempo sem que o comportamento seja genuíno. Nem preciso trazer aqui casos brasileiros, basta olhar ao nosso redor. Enquanto incorrem nesse erro de montar um estilo para o ambiente virtual, os novos ídolos formam uma corrente de fãs flutuante, e não perene. Para ser referência, é necessário muito mais que a rede social. Seja na quadra, na rua, na pista de skate ou no ambiente de trabalho, a idolatria surge pelo bom exemplo.

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