Ficou escancarado desta vez. Não é novidade alguma que boa parte dos partidos políticos no Brasil tornou-se balcão de negócios. As trocas ou filiações, na imensa maioria, são por fisiologia. Acabaram-se os tempos em que as escolhas eram feitas por semelhanças ideológicas ou princípios. Garanto que se fosse feito um questionário com quem chegou aos partidos na última “janela partidária”, fechada em 2 de abril, seriam poucos os aprovados no teste com perguntas sobre as diretrizes das siglas escolhidas. Talvez não saibam nem o número da urna.

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Teve até mesmo os que anunciaram pré-candidatura sem divulgar o partido no qual se filiaram. Aliás, há dezenas de postulantes a cargos de outubro que até agora não falaram sobre isso. Parece ser medo da reação dos eleitores, ou até mesmo falta de convicção na escolha. Fica cada vez mais comprovado que os motivos de filiação deixaram de ser confortáveis para os próprios filiados.

Especialistas em ciência política​ são taxativos ao lembrar que os partidos fazem parte dos pilares de uma democracia. Quando há um aproveitamento fisiológico dos espaços, o caminho para o fim deste importante pilar torna-se mais próximo. Quem acompanha os bastidores da política catarinense, por exemplo, percebeu nas últimas semanas que o último critério para uma filiação foi a semelhança ideológica entre o pré-candidato e a “casa” escolhida.

O primeiro cálculo era sobre o espaço onde seria mais fácil se eleger. Depois vinha a questão financeira: quem teria mais dinheiro a distribuir para as campanhas. Tudo longe do que realmente importa numa política saudável.

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O principal resultado desta fisiologia escancarada justamente no eleitor. Um dos principais partidos de Santa Catarina resolveu fazer um levantamento sobre o número de pessoas que vota pensando na sigla. Quase 80% disse que não está nem aí para o partido, o que importante é o candidato em si.

Para a maioria das pessoas isto pode não ser necessariamente um problema a curto prazo, mas a longo prazo tem tudo para se tornar. Com partidos loteados por “caciques” e donos de altas quantias vindas do fundo eleitoral, as siglas tendem a se tornar redutos comandados por poucos e diante de princípios nada republicanos. É o efeito mais perigoso de fichas assinadas a qualquer custo com danos irreversíveis para uma sociedade já capenga como a nossa.

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