Tenho a impressão de que o presidente Jair Bolsonaro enxerga a vacina contra a Covid-19 como um fantasma. Nada parece o assustar mais do que isso. Para fugir da “assombração” criada na própria cabeça, ele inventa teorias e segue teses mentirosas. Já teve a famosa afirmação sobre os jacarés, as insistentes negativas em se vacinar e até a absurda tentativa de vincular efeitos do imunizante à Aids. Só com esses três atos dá para ver que o presidente foge da vacina a qualquer custo.

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Desenvolvi essa conjectura depois de muito pensar sobre o que leva uma pessoa a defender com unhas e dentes algo que salva vidas. Os números estão aí para isso, basta apenas prestar atenção. A imprensa, taxada de pessimista pelos bolsonaristas, mostra que o coronavírus diminuiu de intensidade no Brasil, os leitos de UTI estão mais vazios e as mortes tiveram queda. Cenário otimista, não? Era tudo o que o país queria desde março do ano passado. E nada de diferente foi feito para que isso acontecesse, a não ser a vacina.

Mas Bolsonaro corre dela com pensamentos mirabolantes. A insistência já atingiu limites acima dos inexplicáveis. Por mais que tentemos adivinhar o que realmente o motiva, vamos ficar sem explicações. Podemos nos ater ao fantasma, um enorme fantasma que chega em doses numa seringa.

Enquanto o presidente tenta se afastar da assombração que salva vidas, metade da população brasileira já recebeu as duas doses contra a Covid-19. Mesmo com um líder político que teme aquilo que nos trará a normalidade, há um movimento coletivo de quem pensa na vida e se vacina.Todos ficam longe de ter medo desse fantasma criado por Bolsonaro, e mesmo que fosse alguma assombração seria o popular “fantasminho camarada”. Só sente medo dele quem não o conhece, ou insiste em vê-lo como um inimigo.

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Inimigo, porém, se torna quem rejeita a vacina. Se os números mostram efeitos positivos e menos gente morrendo, ir contra a nossa salvação é, no mínimo, assustador. Prefiro, por isso, ficar com medo dos que condenam os imunizantes. Esses sim são os fantasmas que assustam e causam terror para a tão sonhada volta à normalidade.​

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