Sou contrário ao linchamento virtual de quem muda de opinião com o passar dos anos. Nada exemplifica melhor a evolução pessoal, ao meu ver, do que trocar de posição sobre determinados assuntos. O “tribunal de internet”, como costumo chamar, por outro lado, bate o martelo e condena os acusados por suposta contradição.
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Diante da enxurrada de críticas aos que resolvem mudar de ideia, procuro sempre filtrar. Analiso contexto e quantidades de vezes que determinado sujeito resolveu “se atualizar”. Por isso que a sentença escrita por mim ali no começo do texto precisa ter um limite. Não o trecho sobre linchamento, mas sim sobre a evolução pessoal. Há uma linha tênue entre mudar de opinão com frequência e se entregar ao que lhe convém. É tipo aquela resposta de criança ainda em formação quando perguntada sobre o time que ela torce: “torço para quem está ganhando”.
Os campeões de torcer para quem está ganhando são os nossos digníssimos políticos. Esses, sim, sabem como vestir uma camisa conforme o placar do jogo. E nem “ficam vermelhos”, diria um amigo. Bom seria, é claro, se a mudança fosse para beneficiar quem os elegeu. Mas não é. Geralmente os beneficiados são os próprios políticos. Mudam de ideia para ter mais espaço, mais votos e mais fotos ao lado de quem os convém.
Um exemplo clássico de pessoa que muda de opinião como troca de roupa é o personagem da semana no país: Roberto Jefferson. Preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-lulista, ex-desarmamentista, ex-corrupto e ex-Mensalão agora é bolsonarista, armamentista, contra a corrupção e defensor da família. Jefferson não apenas mudou de ideia, como radicalizou.
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Só que no meio desse caminho todo, o petebista também indiciou a própria filha – presa em 2020 por investigação de… corrupção – para um ministério no governo Michel Temer. A indicação acabou não vingando, mas exemplifica que não há uma evolução nos pensamentos ou ideias do presidente nacional do PTB. O que há é o interesse pelo poder.
Agora preso, Jefferson enfrenta uma nova condição digna de fazer bastante gente mudar de ideia, o que não seria novidade no caso dele. Quando ganhar a liberdade, talvez volte com nova opinião. Pelo histórico, vai depender do que estiver mais perto daquilo que lhe convém. Como ele já passou por diferentes vertentes, fica até difícil imaginar qual seria sua nova opinião. De pessoas assim, porém, podemos esperar qualquer coisa.
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