Há tese para tudo, diria um amigo que conhece do mundo jurídico. Mas, ultimamente, o brasileiro tem exagerado nos argumentos para qualquer situação. Vacina? “Quero escolher”. Máscara? “O Whats desconfia”. Bandeira do Brasil? “É bolsonarista”. Camisa vermelha? “Seu comunista!”. E vai discordar pra ver o que acontece. A resposta é igual a um áudio daqueles gigantes do WhatsApp que nem com o acelerador de 2x dá coragem de ouvir.

Continua depois da publicidade

Leia todas as Crônicas de Domingo

O brasileiro virou um chato. Não sou contra argumentar, discutir, contrapor. Pelo contrário, acho o debate saudável para as relações. Só que desde o começo da pandemia tudo virou tese. Ainda se fossem argumentos minimamente plausíveis, mas tem gente que se apresenta com a teoria do João-Ninguém da rede social.

Aí isso acaba interferindo na rotina das pessoas. O cidadão chega na fila da vacina, pergunta qual estão aplicando e vai embora. Tente, então, questioná-lo sobre o seu comportamento. Será desperdício de tempo.

Enquanto os “estudados”, como diriam os mais antigos, ficam horas e horas explicando que não importa a marca da dose porque todas são aprovadas pela Anvisa, o sommelier de vacina baseado no Whats é quem sabe o melhor a se fazer. Até antes da pandemia, se fosse perguntar a essa pessoa quais os nomes das vacinas que ela tomou na vida, teria como resposta uma risada e um sonoro: “sei lá”. Só que agora, em meio ao pior momento da saúde pública mundial, o chato quer escolher.

Continua depois da publicidade

Teve até, dias atrás, a médica veterinária que foi tomar TRÊS DOSES porque não havia ficado contente com as duas primeiras. Um caso desses, claro, ultrapassa a chatice. É mau-caratismo mesmo. Mas ainda acredito que a maioria dos casos é formada pelos chatos. Não abre mão da sua visão limitada por poucos argumentos.

E ter que debater por toda e qualquer obviedade, em determinado momento, atinge um limite. Não para o chato, mas sim para os receptores das teses. O pior é que em alguns casos só piora, o debate chega a um ponto em que pensamos: “como eu vim parar aqui?”.

Ultimamente, tenho pensando em adotar uma estratégia simples. Chega de discussões sem resultado. As pessoas têm que começar a ouvir: “Deixa de ser chato!”. Talvez assim elas entendam. Ou não.

Leia também:

O que os livros de história vão contar

Seleção de quem?

A epidemia do barulho

O quadro da sociedade brasileira é irreversível

O nascimento de uma mãe