Uma das minhas primeiras funções como repórter foi acompanhar o trabalho de uma Câmara de Vereadores. Ia a todas as sessões presencialmente. Do início ao fim, anotava os destaques do dia e levava ao ar na rádio no dia seguinte. Nem sempre havia notícia, mas alguma coisa ou outra chamava atenção. As sessões até tinham transmissão pela televisão, no canal legislativo, só que presencialmente era melhor para “sentir o clima” das reuniões. De longe não haveria com captar aquilo que circulava no corredor ou o comportamento de um ou outro vereador que poderia revelar um fato.
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E foi justamente nessas observações presenciais que passei a enxergar a realidade dos Legislativos. Tive a oportunidade, como o passar dos anos, de cobrir sessões de outras esferas parlamentares, como Assembleias Legislativas e a Câmara Federal. Em todos elas, comprovei, há uma essência: a bagunça é rotina. Em algumas mais, outras menos. Vereadores, deputados e senadores dispersos enquantos os outros falam, interrupções por conversas paralelas, bate-bocas desnecessários, discursos vazios…
Obviamente que há exceções em alguns momentos. Há bons exemplos. Mas logo aparece um episódio que revela a bagunça legislativa. Volta e meia, aliás, ganham o noticiário casos de parlamentares que brigam, trocam agressões, partem para a baixaria. Não é rotina, mas de vez em quando aparece. O que tem se tornado rotina de verdade a falta de o mínimo de organização.
A CPI da Pandemia, no Senado Federal, veio para revelar ao país que não há distinção de esfera. Seja vereador ou “senadô”, pouco importa. Há bagunça do mesmo jeito. As sessões, transmitidas ao vivo, mostram aos brasileiros que mesmo no Senado, conhecido também por “Câmara Alta”, há um nível baixo. Algumas Câmaras de Vereadores devem, inclusive, ficar com inveja.
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Ultimamente, aliás, as CPIs tornaram-se uma cilada aos que pensam se aproveitar da “boa imagem” de “investigadores”. Como a maioria delas termina em pizza, não há nada a se vangloriar. Mas há algo ainda pior: a exposição. As comissões passaram a ser transmitidas pela televisão, redes sociais, portais de notícias. O que antes ficava escondido a espectadores presenciais ou transmissões do canais legislativos agora ganhou espaço.
Ficou mais fácil ver as fraquezas do vereadores, deputados e senadores. Lembro-me, por exemplo, da CPI dos Respiradores, na Alesc. Quem assistia pelo YouTube e comentava as reuniões demonstrava o espanto com determinados comportamentos. E assim é no Senado Federal.
Nada contra CPIs e Legislativos, na verdade. Muito pelo contrário. Ambos deveriam ser espaços de alta produção e resolução. A falta disso, porém, se explica pelo que se vê nas sessões e reuniões. Antes de querer uma imagem melhor perante à sociedade, caberia ao legisladores arrumar a Casa, literalmente. Sem isso, a bagunça continuará como marca.
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