Sempre há nas turmas de escola aquele pessoal que senta lá no fundo da sala de aula. Cabe a eles a alcunha de “galera do fundão”. São os que, geralmente, dão mais dor de cabeça aos professores. Conversam durante a aula, arremessam bolinha de papel nos “nerds” lá da frente, tumultuam o ambiente. E depois vão parar na diretoria.

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Quando flagrados, dão um jeito de jogar a responsabilidade para o outro: “não fui eu, professora. Foi o Fulano ali”. Chovem desculpas, mas ninguém assume a bronca dos próprios atos. De vez em quando sobra para um ou outro que nada tem a ver com a história.

A “galera do fundão” é igual a outra galera que de vez em quando apronta as suas: a da Câmara dos Deputados. A aprovação do bilionário Fundão Eleitoral nos últimos dias revelou que a turma de Brasília está no mesmo nível do pessoal da sala de aula. Parte dos que votaram a favor do aumento dos valores para os partidos foi às redes sociais. Alegam que tentaram votar contra, mas não conseguiram. Mesmo assim, foram a favor do texto principal, que era a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022.

Um estudante saberia, porém, que se os deputados estivessem realmente insatisfeitos com o Fundão eles teriam votado contra a LDO. Mas não o fizeram, e agora estão cheio de argumentos, como a turma de sala de aula. Os parlamentares ainda tentam colocar a culpa uns nos outros: “ah, foi o partido X”, “não foi culpa nossa, é a oposição”, “tentamos votar contra, mas não deixaram”. Outro método muito conhecidos pelos professores: o jogo de empurra da responsabilidade.

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A diferença é que os políticos da Brasília pelo menos deveriam assumir seus atos ou ter uma postura condizente com o que aparentam nas redes sociais. De um estudante ainda em formação até se entendem certos comportamentos. Já dos eleitos pelo povo o que deveria vir era um mínimo de coerência e noção da realidade. Como isso é esperar demais nos últimos tempo, cabe à “galera do fundão” da Câmara dos Deputados aguentar as reações da “diretoria”, neste caso o eleitor.

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