Problemas culturais geram consequências capazes de se tornarem epidemias de uma sociedade. Uma delas, em terras tupiniquins, é a do barulho. Começa com o vizinho no volume máximo do som, passa pela motocicleta com o escapamento alterado e vai até a carreata embalada por buzina. Fica claro que o objetivo é demonstrar potência. Como dizem por aí: “esse tá querendo aparecer”.

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Preciso confessar que todos os citados acima conseguem atingir seus objetivos. Mas também conseguem gerar revolta. Não há bom senso algum em deixar o “som no talo”, como falam os mais jovens. Isso só demonstra falta de empatia e egoísmo, sentimentos que repercutem, entre outros tantos pontos, nas forças de segurança.

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A ocorrência de perturbação de sossego tornou-se o principal de motivo de chamadas para a Polícia Militar em Santa Catarina. São pessoas cansadas de ouvir a festa do vizinho até altas horas ou incomodadas pelo som acima do tolerado. Isso faz com que policiais militares deixem de atender outros casos porque precisam cuidar de quem não tem o mínimo de respeito. Aliás, até fico pensando que é esperar demais de quem nem sequer pensa se há alguém incomodado e eleva o volume seja lá do que for sem qualquer preocupação.

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Dias atrás, assistindo a um programa de televisão em que famílias ganham eletrodomésticos e eletrônicos, fiquei com pena dos vizinhos dos agraciados. Eles levaram dois sons daquele de alta potência para casa. Me doeram os ouvidos só de ver o tamanho dos equipamentos.

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Porém, essa é uma cultura brasileira. Parece ter virado sinal de status ter a casa com o som mais alto, a moto com o barulho mais potente. Predomina a vontade de chamar atenção em detrimento de crianças com autismo, idosos e de quem simplesmente não quer ouvir a música alheia como trilha sonora.

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Dos nossos problemas urbanos, esse é um dos principais pelos efeitos na sociedade. E a epidemia do barulho só aumenta. Diferentemente da pandemia do coronavírus, não há vacina que salve. O trabalho precisa ser mais lento porque a crise é cultural. Mas a gente precisa começar. Nem que seja diminuindo o volume do som. Ou, melhor, percebendo que para viver em sociedade ninguém precisa incomodar os outros para aparecer.

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