Naturalmente ansioso, o ser humano vive pulando etapas. Antes mesmo da vivência, a gente já projeta o que vem pela frente sem nem ao menos se dar o prazer de sentir os momentos. Amadureci essa sensação com o nascimento do meu filho, que nesta semana completou um ano e meio. A evolução de uma criança no faz perceber que nada é no nosso tempo. Tudo tem uma hora certa para acontecer, e é justamente nessa “lentidão” onde residem as melhores sensações.
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Logo na gravidez a gente já projeta como será o bebê. Começamos a imaginar os olhos, o cabelo, o tamanho, os primeiros passos, as primeiras palavras, o time que vai torcer. As projeções nos colocam com a cabeça em um mundo imaginário cheio de variáveis, mas poucas se aproximam do real. Quando começamos a viver aquilo que projetamos, percebemos o quanto perdemos tempo com isso já que não temos controle sobre nada.
Por maior que seja a expectativa criada por ver a criança começar a andar, o melhor é vê-la tentar. O caminho para a realização daquilo que projetamos é tão bonito quanto a conquista. Lembro de ver João Pedro engatinhar pela primeira vez ainda sem entender a mecânica complexo de combinar os movimentos dos braços e dos joelhos. Aos poucos tudo foi sincronizando até chegar às primeiras tentativas de se apoiar em algo. Por fim, meses depois, é que veio a caminhada.
Agora o processo por aqui é o da fala. Algumas coisas já saem, e os adultos ansiosos sempre na expectativa pela palavra mais clara, o “mamãe”, o “papai”. Felizmente, aprendedido a ver a beleza do “bi”, para os carrinhos, do “aaii”, para o oi, do “ábua” para a água. E assim vai, sem aumentar uma ansiedade desnecessária.
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Fica cada vez mais claro que a beleza está no caminho. João Pedro tem seu tempo, assim como tivemos o nosso. A gente é que antecipa tudo para satisfazer a fome da ansiedade sem lembrar de que assim pulamos etapas importantes para uma criança.
A paternidade deixa a clara lição de evitarmos as previsões. Aprende-se que o mais interessante vem com a transformação. E é isso que fica guardado de forma mais intensa na nossa memória, porque o restante a gente já projetou antes mesmo de acontecer.
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