Há alguns dias martela na minha cabeça o depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na CPI da Pandemia. Caso ainda existissem programas de humor como o Casseta & Planeta, seria um prato cheio para Hélio De La Peña e sua turma. Sem nem ficar vermelho, Pazuello mentiu descaradamente. Já se sabia naquele exato momento que o general do Exército escondia fatos. Mas os depoimentos que vieram depois comprovaram a desfaçatez do ex-ministro.

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Aliás, foram as falas dos convocados depois de Pazuello as responsáveis por sua reconvocação à CPI. Mas nem precisava que outras pessoas o contradissessem para que a mentira ficasse visível. Era só estar atento aos fatos. O general mentiu e mentiu. Um comportamento que não se espera de qualquer nível de autoridade, e ainda envergonha o Exército.

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Deveria envergonhar, na verdade, a todos os brasileiros. Um ex-ministro sentado diante de senadores na investigação de uma fracassada gestão da pandemia, com transmissão em diferentes canais de televisão, teria a obrigação de, pelo menos, ser fiel à verdade. Mas não, Pazuello deu mais um passo para o que está em evidência no Brasil: a institucionalização da mentira.

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Até certos tempos, mentir era considerado algo brutal. Desde pequeno aprendemos que esconder ou inventar fatos é reprovável. Quando alguém era descoberto em sua mentira, os demais olhavam desconfiados, apontando o dedo. Agora, em 2021, representantes do governo federal, tentam dizer que fizeram de tudo pela vacina, inventam teses sobre decisão do STF para comprometer governadores e prefeitos e mentem sobre remédios sem eficácia.

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Tudo isso sem vergonha alguma, mesmo diante do olhar de reprovação de milhões de brasileiros. E o perigo de comportamentos como esse está justamente na propagação das mentiras sem nenhuma reação. Como assim um ex-ministro mente descaradamente e nada acontece? Qual a mensagem que isso passa para o cidadão que diariamente fala a verdade porque sabe o valor da honestidade?

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As respostas para as perguntas acima estão numa frase: ele mentiu justamente porque sabe que nada vai acontecer e isso se espalha para quem assiste como sinal de impunidade. Institucionalizar a mentira pode ser ainda pior se os atores desse ato passarem sem reações. A CPI e o ex-ministro terão uma nova oportunidade de contar melhor, e corretamente, a história. A reconvocação será a chance de comprovarmos se realmente Pazuello tem perna curta.

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