A liberação dos indígenas para a operação da barragem de José Boiteux, a maior estrutura de contenção de cheias de Santa Catarina, era inevitável. Como nas outras cheias, a comunidade local deixou a área, mesmo que isto custasse a inundação das próprias casas. Além disso, a operação precisa ser feita. Entretanto, a condução da crise por parte do governo do Estado não foi a adequada. Com a previsão de enchente sendo comunicada há dias no Vale do Itajaí, a Defesa Civil catarinense já havia descartado a operação da barragem e não fez as negociações corretas a tempo de se evitar uma intervenção policial na região.

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O que está por trás do conflito que afeta a operação da barragem de José Boiteux

A mudança de postura do governo de Santa Catarina chama a atenção. Enquanto no meio da semana o secretário de Defesa Civil, Armando Reis, afirmou que não havia segurança para a operação da estrutura, no sábado o governador Jorginho Mello ordenou o fechamento das comportas. Durante todo o dia, entretanto, houve pouca ação de negociação por parte do Estado, segundo fontes ouvidas pela coluna.

O governo demorou a agir em José Boiteux. Fora a mudança de entendimento sobre a segurança da barragem, está nítido que as negociações foram mal conduzidas junto aos indígenas. No meio da semana, em contato com este colunista, o governador mostrou-se disposto a resolver, de uma vez por todas, o impasse com a comunidade que reside ao redor da barragem.

A disposição, portanto, é louvável e merece reconhecimento. Afinal, por 20 anos não há resolução do impasse naquele ponto. Por outro, na crise atual, que depende de ação rápida e negociações efetivas, faltou uma condução adequada, o que gerou a necessidade de exposição do governador para ir à linha de frente das negociações. Assim, o governo optou por ir à Justiça e acionar a Polícia Militar (PM), que é o pior dos cenários.

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Condição da barragem de José Boiteux

Os indígenas alegam que a barragem não estão condições de ser fechada por risco de rompimento. A preocupação deles é corroborada pela própria afirmação do secretário de Defesa Civil do Estado, no meio da semana. Colo a seguir trecho da reportagem da colega do NSC Total Talita Catie: “o secretário de Estado da Defesa Civil, coronel Armando, frisa que não se sabe as condições da tubulação e seria perigoso fechar as comportas sem garantia de conseguir abri-las novamente. Ele frisa o risco de a água verter e a situação sair do controle. Ainda conforme o chefe da pasta, futuramente serão feitos testes para avaliar se a manobra ‘improvisada’ é viável”.

Portanto, está claro que há um desentendimento interno no governo sobre o melhor a ser feito em José Boiteux. A preocupação com as cidades abaixo da barragem é totalmente louvável. Mas, para resolver a crise atual, faltou um esforço maior do Estado para que evitasse uma resolução conflituosa.

Gestões inoperantes na situação da barragem de José Boiteux

Por fim, vale destacar que o cenário atual da barragem é resultando de 20 anos de inoperância nas negociações com os indígenas. Foram vários governos e gestões da Defesa Civil incapazes de manter a barragem em funcionamento ao ponto de hoje não se saber se ela está segura para salvar vidas ou insegura ao ponto de colocar mais vidas em risco.

Decisões técnicas, diz Jorginho sobre a barragem de José Boiteux

Na manhã deste domingo, em coletiva de imprensa em Rio do Sul, o governador foi perguntado pela colega repórter do NSC Total Luana Amorim sobre as negociações, num questionamento enviado pela coluna. Luana questionou se as negociações com os indígenas não poderiam ter sido feitas antes ao lembrar da conversa que o próprio governador teve com o cacique local na noite de sábado (7). Como resposta, Jorginho disse: “Claro, podia ter ocorrido há 20 anos atrás, e alguém não fez”.

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Nas redes sociais, o governador postou um texto sobre a barragem e o fechamento das comportas: “A verdade é que o nosso governo só toma decisões técnicas, embasadas e debatidas com os especialistas em cada área. Nosso corpo técnico tem a capacidade de dizer o que é ou não seguro. Somos transparentes em todas as informações”, disse em trechos da postagem.

VEJA ABAIXO FOTOS DA CHUVA EM SC: