Os cinco minutos do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira (23) revelam-se um ataque às medidas adotadas pelo governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, no combate ao novo coronavírus. Mesmo sem citar nomes ou distinguir regiões, a fala vai contra as ações cautelosas do governo catarinense e pode representar um risco à efetividade do trabalho no Estado onde Bolsonaro teve um dos maiores apoios nas Eleições de 2018.

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Há oito dias Santa Catarina está sob decretos de isolamento. O transporte coletivo foi suspenso, o comércio fechou suas portas, policiais militares estão nas ruas para garantir o cumprimento das determinações. Apesar de algumas resistências iniciais, o catarinense aderiu e entendeu as rígidas restrições em prol da prevenção da doença que já matou pelo menos 46 pessoas no Brasil e tem 109 casos confirmados nas cidades do Estado.

O pronunciamento de Bolsonaro, porém, é uma afronta aos pedidos e cuidados do governo catarinense e chega a expor para o Brasil uma crítica ao que foi decidido por Moisés.

Em trecho da sua fala, o presidente da República diz: “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa”. Em seguida, questiona o fechamento de escolas. O que Bolsonaro chamou de “terra arrasada” foi justamente aquilo que o governo catarinense aplica desde 17 de março e apresentou nesta terça-feira um sinal positivo na queda dos números de casos suspeitos.

Infelizmente, o pronunciamento chega para afastar uma relação que vinha se estreitando ao longo do dia. Horas antes, Moisés e os outros governadores do Sul haviam se reunido por videoconferência com o presidente da República. O clima era de otimismo e aproximação com efeitos aparentes aqui no Estado quando o governador passou a adotar com mais força o tom de retomada econômica.

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Mas, ao chamar o coronavírus de “gripezinha” e relativizar a doença, Bolsonaro aposta na tática desnecessária do enfrentamento no momento em que a crise pede união. O governo catarinense mantém o pedido para que as pessoas fiquem em casa, baseado em conceitos técnicos especializados, assim como as medidas tomadas desde a semana passada.

A discussão sobre a economia do País, que será atingida pelo atual momento, deve ser feita de forma centrada e com impacto para empresários e trabalhadores. Há de se buscar a equação para que a saúde não seja deixada de lado quando ela precisa ser prioritária. Um plano de retomada, como prometido pelo governo catarinense, dá sinais de ser o caminho. O atendimento às pessoas ganha protagonismo com restrições para que se evite a proliferação vírus. E isso não impede – pelo contrário, exige – uma reação paralela para a economia.

Esta quarta-feira (25) será fundamental para que os impactos do discurso sejam medidos no Estado, tanto entre as pessoas como pelas autoridades. O entendimento inicial e a aceitação das restrições levam a crer que nem mesmo o pronunciamento será capaz de desmobilizar os catarinenses, mas a linha adotada pelo presidente pode atingir em cheio o trabalho feito pelo governo local. A resposta dependerá das ações das próximas horas.