A estratégia do governo Moisés para os hospitais de campanha teve pelo menos três rumos diferentes desde o começo da crise do coronavírus em Santa Catarina. O mais recente envolveu a polêmica contratação de 100 leitos de UTI para instalação em Itajaí que o Estado decidiu nesta quinta-feira (16) recuar e anunciar um pacote maior de estruturas. Sozinho, o governo se complica com idas e vindas nas últimas três semanas.

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No dia 30 de março, em coletiva de imprensa, o governador Carlos Moisés da Silva e o secretário de Saúde, Helton Zeferino, afirmaram que os hospitais de campanha não estavam no planejamento inicial. O foco seria a estruturação da rede hospitalar. No final da mesma semana, porém, o discurso começou a mudar e o Estado divulgou a intenção de fazer mil leitos de UTI no modelo de campanha.

Poucos dias depois, em 8 de abril, foi lançado o edital de cotação de preços para a contratação de 100 leitos de UTI para Itajaí. O prazo era rápido: no dia seguinte a empresa vencedora já estava definida para a instalação ao custo e R$ 76 milhões. Iniciou-se, então, uma novela que envolveu duas decisões judiciais – a mais recente pela suspensão do edital -, questionamentos na Assembleia Legislativa, comparação de valores com a estrutura de Goiás, posicionamento de órgãos fiscalizadores como o Ministério Público (MP-SC) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ainda o impasse aberto entre a vice-governadora Daniela Reinehr e o governador.

Diante deste cenário, o governo decidiu agora que vai licitar 1 mil leitos, ou 10 hospitais de campanha, em um formato diferente, seguindo os ritos tradicionais de licitação. A argumentação baseou-se tanto na questão burocrática como em uma nova mudança estratégica de combate ao coronavírus. A contratação de leitos privados e a análise da curva de avanço da doença em território catarinense contribuíram, segundo Moisés.

O exemplo de Itajaí mostrou desde o começo que a transparência deveria ter sido prioridade justamente para que se evitasse uma crise como ocorreu. Faltou por parte do Estado um detalhamento dos números e a apresentação da estratégia com mais clareza, algo que ocorreu somente dias depois da publicação do edital. A novela crida em torno do hospital de campanha tem grande contribuição do próprio governo.

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As mudanças de rumos em meio a uma pandemia tornam-se naturais diante dos números. Correções de nota são esperadas, inclusive. Mas elas devem ser feitas com uma estratégia clara e transparência justamente para que os atos não ganhem mais repercussão do que os seus efeitos.