Na prática, a Carta aos Catarinenses assinada pelo secretariado do governador Carlos Moisés tem pouca efetividade. O colegiado se reuniu na segunda-feira (21) como forma de reação ao processo de impeachment que avançou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e endossou um discurso adotado por Moisés nos últimos dias. O momento, entretanto, pode ser tarde demais para uma mudança de postura.
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Em menos de 15 dias, a comissão mista com desembargadores e deputados decide o futuro do comando do Estado. Somente nos últimos dias é que o governador passou a assumir uma linha de enfrentamento ao processo de impeachment e escolher um alvo. Antes preferia fala de suas ações no primeiro um ano e nove meses de gestão como se isso fosse impactar de alguma forma na decisão dos deputados. Não deu certo.
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Os mesmos secretários que foram para a linha de frente durante a votação na Alesc e acompanharam a derrota do governo na semana passada, agora se posicionam simbolicamente. Um dos trechos do documento diz: “Se este desrespeito for consumado, e as portas do governo forem abertas para aqueles que representam o que os catarinenses rejeitaram nas urnas e rejeitam no dia a dia, saibam que não dividiremos espaço com eles”.
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O recado é: caso haja mudança de governo, os secretários não ficam. Mas, na prática, isso não tem efetividade. Com troca de gestão, os governadores fazem expressivas alterações em seus cargos de confiança. O mesmo ocorreu quando Moisés tomou posse em janeiro de 2019. Ele manteve apenas três nomes da equipe de Eduardo Pinho Moreira. O que o secretariado atual fez através do documento é mostrar que segue ao lado do governador quando o apoio no campo político praticamente inexiste.
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O conteúdo da carta foca naquilo que o governo tem feito desde a semana passada: sem dar nomes, coloca como alvo o presidente da Assembleia Legislativa, Julio Garcia (PSD), que assume o Centro Administrativo em caso de afastamento de Moisés e Daniela Reinehr. Traz, de forma subentendida a operação Alcatraz, e contratos investigados que foram refeitos pela atual gestão.
O tema, porém, não fez parte de nenhum discurso de Moisés no primeiro ano e nove meses de governo. Desde maio de 2019, quando ocorreu a operação, apesar de em alguns momentos haver nos bastidores um ou outro comentário sobre as mudanças nos contratos investigados, o assunto Alcatraz passou praticamente batido pela gestão. Mas, para se defender e perto do afastamento, Moisés passa a se utilizar do discurso como ataque.
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Ao se dirigir aos catarinenses, a carta tenta sensibilizar uma população até agora desconectada da realidade do processo de impeachment. Para isso, se utilizar do termo “virada de mesa”, destaca números da gestão e lembra dos 71% dados a Moisés nas eleições. A efetividade, porém, ainda inexiste. No campo político, a reversão não se construirá desta forma, mas sim como uma nova tentativa de articulações. Justamente por isso é que a carta tende a ser mais uma tentativa de reação do que um movimento efetivo.
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