Assim como milhares de pessoas internadas pela Covid-19, o Brasil está na UTI. As mortes por falta de oxigênio em Manaus (AM) são resultado de um país doente, que tem o quadro agravado a cada dia. E as causas para o atual cenário gravíssimo brasileiro vêm do negacionismo, da insistência em discursos ideológicos, na má gestão da pandemia e na polarização. Enquanto os manauaras morrem por falta de ar, o Brasil perde o brilho e adoece ainda mais.

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Desde março de 2020 o país está dividido. Economia e saúde foram colocadas em trincheiras opostas por discursos como o do presidente Jair Bolsonaro. Remédios sem comprovação científica ganharam o altar de salvadores de uma doença ainda pouco conhecida. As recomendações científicas passaram a ganhar olhares de desconfiança. A ciência foi colocada em xeque por defender a vida, algo jamais visto. Mas no Brasil vimos isso acontecer.

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No restante do mundo, salvo raríssimas exceções, líderes mundiais uniram seus povos para enfrentar a pandemia. No Brasil, não. Aqui o presidente da República dividiu, e ajudou o país a adoecer. As discussões sobre a pandemia tornaram-se conversas de boteco com os especialistas taxados a “esquerdistas”, “contrários à economia”.

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Escrevi em abril de 2020, aqui neste espaço: as pessoas estão doentes, e a causa não é o coronavírus. Com o passar dos meses, a doença se espalhou. Ganhou força com fake news, com mais disputas ideológicas… e mortes. O custo do negacionismo e campanhas contra medidas eficazes levou vidas e deixou o país ainda mais doente.

O que acontece em Manaus não tem responsabilidade exclusiva do discurso polarizador do governo federal, apesar de ele ser fundamental para o descontrole da doença. Há de se levar em conta também os gestores locais no Amazonas. A saturação de um sistema de saúde não se desenha do dia para a noite. O oxigênio não acaba em horas. Ao ser pressionado, no final de 2020, o governo local voltou atrás das medidas que havia previsto para conter o avanço do coronavírus.

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Pressão que veio das pessoas e políticos. Os mesmos políticos que ajudam a agravar o quadro brasileiro. A cada dia que passa, o país fica menos intenso, se concentra nas polarizações e, literalmente, perde o ar. A dor de Manaus deveria comover todos os Estados, todos os governantes. Mas ainda assim há relativização, há disputas.

No caso da doença brasileira, há tratamento precoce. Mas é lento. E ele passa por uma mudança cultural e de revisão de princípios. O ódio ganhou protagonismo, enquanto a empatia perde espaço. Enquanto isso acontece, continuamos sufocados e ameaçados a cada instante.

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