Não há limites para o jogo político de Jair Bolsonaro. O presidente da República se utiliza do que for necessário para impor suas ideologias. O exemplo mais recente está na vacina contra o coronavírus. A discussão, que deveria ser técnica e científica, tornou-se ideológica por conveniência. Enquanto o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, traçou uma estratégia para obter os medicamentos produzidos por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, Bolsonaro joga contra e veta com sinais claros de um ato meramente político.

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Bolsonaro fala em traição e nega compra de vacina chinesa

Até então, durante a pandemia, o presidente da República vinha exaltando medicamentos contestados por pesquisadores. Não havia comprovação de eficácia daquilo que Bolsonaro pretendia aplicar como solução. Em contradição, nesta semana, ele manifestou-se no Palácio do Planalto para destacar que não vai autorizar vacinas sem comprovação e estudos, algo que nem precisa ser discutido.

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Bolsonaro tem todo o direito de exigir as análises sobre as medicações a serem aplicadas no Brasil. Inclusive, deveria fazer o mesmo para as próprias indicações de uso de remédios durante a pandemia. Contudo, como gestor e autoridade, deveria ter cautela e discernimento. Misturar ideologia com a vida dos brasileiros é colocar em risco a população. Por mais que não fique tão claro, o que está em jogo nos bastidores são dois pontos sensíveis ao eleitor bolsonarista: China e João Doria, governador de São Paulo. O que explica a reação contundente de Bolsonaro.

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Mais uma vez, o presidente perde a oportunidade de comandar uma discussão séria e sem ideologias sobre a pandemia. Ao invés de vir à tona parar falar que a vacina não será obrigatória, cabe a um chefe de Estado a missão de mediar e conduzir o país ao enfrentamento com serenidade e embasamento. Indiscutivelmente, a imunização traz impactos a diversos setores, não somente à saúde.

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A especialista e PHD em economia, Monica de Bolle, escreveu esta semana em seu perfil no Twitter: “Não há tema mais relevante para a economia hoje do que a saúde pública”. Para um presidente que desde o começo da pandemia faz discursos de que saúde e economia estão no mesmo patamar, a imunização deveria estar entre as prioridades para trazer resultados aos dois lados. Sem ideologia e política.