A aplicação do ozônio retal anunciada pelo prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni, não é isolada. Soma-se aos outros medicamentos usados para iludir os moradores no enfrentamento ao coronavírus. O ozônio, por exemplo, não tem comprovação científica nem para outras doenças. Antes da “nova descoberta”, o médico Morastoni já apelou também para a cânfora e a ivermectina, também sem efeito confirmado para o coronavírus.
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Itajaí tem 105 mortes pela Covid-19. Mesmo sendo a sexta cidade em população de Santa Catarina, é a segunda em óbitos pela doença. Desde maio a prefeitura disponibiliza medicamentos homeopáticos para aumentar a imunidade dos moradores. Mas, pelos números, a medida não surte efeito. Agora, o prefeito aposta no ozônio de aplicação retal, uma medida contestada por entidades médicas, organizações científicas, especialistas, profissionais de saúde e órgãos controladores.
A doutora em microbiologia Natalia Pasternak escreveu durante a manhã desta terça-feira em sua rede social que a ozonioterapia sugerida por Itajaí não é prática médica. Além disso, trouxe à tona um artigo que conta a proibição da prática nos EUA por um clínica que tentava usá-la contra o coronavírus. Alexandre Barbosa, infectologista da Unesp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, lembra que a aplicação traz efeitos colaterais. Segundo ele é uma terapia que não tem reconhecimento de eficácia por estudos científicos sérios.
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A falsa sensação de segurança é o pior dos recados que Morastoni transmite. Ao dizer que o ozônio tem “excelentes resultados”, o prefeito coloca na cabeça dos moradores uma ilusão perigosa, capaz de elevar a já preocupante curva de casos do município do Litoral Norte catarinense. É bom lembrar que a cidade fica na região que está há mais tempo no nível gravíssimo para coronavírus em Santa Catarina.
Comprovadamente, segundo cientistas e médicos especialistas em infectologia, a medida mais eficaz para o combate à doença é o isolamento social. Nada mais mostrou-se tão eficaz no momento quanto a redução do contato entre as pessoas. Mesmo assim, espalham-se tentativas de um medicamento que seja o “salvador da pátria”, como se o coronavírus fosse uma doença simples e de fácil combate, algo que comprovadamente não se confirma.
A busca desenfreada de autoridades por métodos “milagrosos” prejudica o combate à doença baseado em evidências científicas. Nestes casos, além do desperdídio de tempo e da ilusão causada nas pessoas, trata-se de dinheiro público. O momento pede ação, mas não apostas sem um criterioso embasamento científico. O que se vê em Itajaí é uma fábrica de ilusões no momento em que mais se deve passar segurança.
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